• Matéria: Português
  • Autor: Eliane10bie
  • Perguntado 8 anos atrás

Podem me ajuda urgente??????? para amanha

Um idoso na fila do Detran



"O senhor aqui é idoso", gritava a senhora para o guarda, no meio da confusão na porta do Detran da Avenida Presidente Vargas, apontando com o dedo o tal "senhor". Como ninguém protestasse, o policial abriu o caminho para que o velhinho enfim passasse à frente de todo mundo para buscar a sua carteira.

Olhei em volta e procurei com os olhos 0 velhinho, mas nada. De repente, percebi que o "idoso" que a dama solidária queria proteger do empurra-empurra não era outro senão eu.

Até hoje não me refiz do choque, eu que já tinha me acostumado a vários e traumáticos ritos de passagem para a maturidade: dos 40, quando em crise se entra pela primeira vez nos "entra"; dos 50, quando, deprimido, salte que jamais vai se fazer outros 50 (a gente acha que pode chegar aos 80, mas aos 100?); e dos 60, quando um eufemismo diz que a gente entrou na "terceira idade". Nunca passou pela minha cabeça que houvesse uma outra passagem, um outro marco, aos 65 anos. E, muito menos, nunca achei que viesse a ser chamado, tão cedo, de "idoso", ainda mais numa fila do Detran.

Na hora, tive vontade de pedir à tal senhora que falasse mais baixo. Na verdade, tive vontade mesmo foi de lhe dizer: "idoso é o senhor seu pai. O que mais irritava era a ausência total de hesitação ou dúvida. Como é que ela tinha tanta certeza? Que ousadia! Quem lhe garantia que eu tinha 65 anos, se nem pediu pra ver minha identidade? E 0 guarda paspalhão, por que não criou um caso, exigindo prova e documentos? Será que era tão evidente assim? Como além de idoso eu era um recém-operado, acabei aceitando ser colocado pela porta adentro. Mas confesso que furei a fila sonhando com a massa gritando, revoltada: "esse coroa tá furando a fila! Ele não é idoso! Manda ele lá pro fim!" Mas que nada, nem um pio.

O silêncio de aprovação aumentava o sentimento de que eu era ao mesmo tempo privilegiado e vítima — do tempo. Me lembrei da manhã em que acordei fazendo 60 anos: "Isso é uma sacanagem comigo", me disse, "eu não mereço." Há poucos dias, ao revelar minha idade, uma jovem universitária reagira assim: "Mas ninguém lhe dá isso." Respondi que, em matéria de idade, o triste é que ninguém precisa dar para você ter. De qualquer maneira, era um gentil consolo da linda jovem. Ali na porta do Detran, nem isso, nenhuma alma caridosa para me "dar" um pouco menos.

Subi e a mocinha da mesa de informações apontou para os balcões 15 e 16, onde havia um cartaz avisando: "Gestantes, deficientes físicos e pessoas idosas." Hesitei um pouco e ela, já impaciente, perguntou: "O senhor não tem mais de 65 anos? Não é idoso?"

— Não, sou gestante — tive vontade de responder, mas percebi que não carregava nenhum sinal aparente de que tinha amamentado ou estava prestes a amamentar alguém. Saí resmungando: "não tenho mais, tenho só 65 anos."

O ridículo, a partir de uma certa idade, é como você fica avaro em matéria de tempo: briga por causa de um mês, de um dia. "Você nasceu no dia 14, eu sou do dia 15", já ouvi essa discussão.

Enquanto espero ser chamado, vou tentando me lembrar quem me faz companhia nesse triste transe. Ai, se não me falha a memória — e essa é a segunda coisa que mais falha nessa idade —, me lembro que Fernando Henrique, Maluf e Chico Anysio estariam sentados ali comigo. Por associação de idéias, ou de idades, vou recordando também que só no jornalismo, entre companheiros de geração, há um respeitável time dos que não entram mais em fila do Detran, ou estão quase não entrando: Ziraldo, Dines, Gullar, Evandro Carlos, Milton Coelho, Janio de Freitas (Lemos, Cony, Barreto, Armando e Figueiró já andam de graça em ônibus há um bom tempo). Sei que devo estar cometendo injustiça com um ou com outro — de ano, meses ou dias —, e eles vão ficar bravos. Mas não perdem por esperar: é questão de tempo.

Ah, sim, onde é que eu estava mesmo? "No Detran", diz uma voz. Ah, sim. "E o atendimento?" Ah, sim, está mais civilizado, há mais ordem e limpeza. Mas mesmo sem entrar em fila passa-se um dia para renovar a carteira. Pelo menos alguma coisa se renova nessa idade.
Leia e responda:
A)que fato do cotidiano serviu de base para a construção dessa cronica?
B) quanto tempo os acontecimentos narrados na crônica?
2) em um momento do texto, o narrador conta como se sentiu ao ter sido considerado idoso
A)por que as pessoas julgaram que ele era idoso?
B) explique por que isso incomodava tanto.
3)na cronica, o personagem esperava que as pessoas protestassem diante do fato de ele fura. Fila em que essa atitude geralmente negativa o favoreceria?
4) em momento do texto o narrador diz que terceira idade e um eufenismo
A)explique oque ele diz com isso
B)cite outros exemplos de eufemismo no minimo dois que são empregados no dia a dia
5)de forma irônica o narrador disse ter tido vontade de dar um resposta. a funcionaria do Detran.
A)transcreva o trecho onde isso ocorre
B)o que confere ironia a esse trecho

Respostas

respondido por: Anadosbolo
60
A-A fila do Detran

2)A-Foram pela aparência
B-Porque ele não se assumia como idoso

3)Ele se sentiria mais jovem

4)A-Eufemismo é uma forma de você falar a verdade de uma forma educada,então ele quis dizer que era uma forma educada de chama-lo de velho

B-Inteligência tímida e beleza oculta

5)B-O fato de que homem não engravida 

 

Eliane10bie: Muito obrigado
respondido por: yuri14rodrigues
5

01. A) O fato cotidiano em que se passar a crônica é em uma fila do DETRAN, que é um órgão responsável pelo transporte em geral.

B) O tempo que se passam os acontecimentos da crônica é no passado.

02. A) As demais pessoas que estavam na fila julgaram aquele homem como idoso devido à sua aparência física.

B) Isso incomodava tanto o homem pois ele não se assumia um idoso, de fato.

03. O personagem principal esperava que essa atitude o deixaria mais jovial.

04. A) O eufemismo foi utilizado para chamar aquele homem de "velho", porém, de outra maneira.

B) No dia a dia, utilizamos eufemismos como quando um indivíduo "partiu", ou "deixou esse mundo".

05. A) O trecho está em "idoso é o senhor seu pai. O que mais irritava era a ausência total de hesitação ou dúvida. Como é que ela tinha tanta certeza? Que ousadia!"

B) Confere que homens não engravidam.

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