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Os textos do filósofo francês Gilles Lipovestky estão disponíveis aos leitores brasileiros há duas décadas. Desde o final dos anos 1980, com a publicação de seu excelente livro O império do efêmero (Companhia das Letras, 2ª edição, 1989) – um estudo da moda como fenômeno ocidental moderno –, o autor aborda fenômenos como a moda, o luxo, o lazer, a mídia, a publicidade, o consumo, que servem de fio condutor para a teorização sobre o individualismo, a alienação, a liberdade, a felicidade. Polêmico por propor uma leitura mais tolerante da cultura de consumo, defende que a lógica sedutora da mercadoria manipula, mas também pode ser um mecanismo de emancipação dos sujeitos. Já foi classificado por seus críticos como um autor pós-moderno por, de fato, ter tomado esse conceito como categoria explicativa para uma nova condição social e histórica das sociedades ocidentais. Entretanto, em seus últimos escritos, como em Os tempos hipermodernos (BARCAROLLA, 2004), assume que o pós-moderno foi um estágio passageiro da hipermodernização do mundo, ou seja, de uma intensificação de fenômenos que sempre caracterizaram a modernidade, tais como o individualismo.
Seu mais recente livro remete-nos aos paradoxos da felicidade. Contudo, o subtítulo revela mais claramente a essência do texto: uma reflexão sobre a constituição da sociedade de hiperconsumo; e sobre a possibilidade ou não de realização da promessa moderna de felicidade, caracterizada como ideal supremo de nossa época. Na aparência, essa sociedade não difere muito da sociedade de consumo da segunda metade do século XX, denominada pelo autor "civilização do desejo"; mas o olhar atento de Lipovetsky capta e discute os sinais, funcionamento e impacto de uma nova etapa.
Para caracterizar o atual estágio de consumo, Lipovetsky reconstitui a história das diferentes fases do capitalismo de consumo. O primeiro ciclo, iniciado por volta dos anos 1880, avança até a Segunda Guerra Mundial. Trata-se da constituição da produção e do consumo de massa, da invenção do marketing e da construção do consumidor moderno, surgindo o consumo-sedução e o consumo-distração, dos quais ainda somos herdeiros fiéis.