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Desde que ficou conhecida, há mais de cem anos, a Doença de Chagas se tornou o foco dos responsáveis pela saúde pública das áreas endêmicas - que se mobilizaram para realizar o controle do vetor (barbeiro) e do parasita (Trypanosso cruzi) causadores da enfermidade -, entretanto, ainda é alarmante a grande concentração de infectados nas Américas. Para falar sobre o assunto, o Adote um Cientista recebeu graduando Samuel Cota no dia 29 de agosto. Estudante de Ciências Biológicas pela UFU (Universidade Federal de Uberlândia), ele conversou os com os jovens sobre a descoberta da doença por Carlos Chagas, que desvendou todos os elos da cadeia epidemiológica - descrevendo o hospedeiro, o vetor, o agente infectante e o ciclo epidemiológico de uma doença até então desconhecida. Samuel, que participa do grupo de pesquisa do Laboratório de Tripanosomatídeos (LATRI) da UFU, falou também sobre como ocorre a infecção, o ciclo do parasita e as formas de tratamento da patologia.
Nas palavras do palestrante
Inicialmente a Doença de Chagas era restrita a regiões geográficas específicas, mas com o passar do tempo tornou-se um problema de saúde a nível mundial. A Doença de Chagas ou Tripanossomíase Americana é considerada uma das mais importantes doenças tropicais negligenciadas sendo endêmica na América Central, América do Sul e México onde atinge cerca de 18 milhões de pessoas, contabilizando 25.000 óbitos anuais.
Com o avanço no controle da transmissão vetorial e por transfusão sanguínea, outras vias de transmissão têm apresentado importante relevância. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) declarou o fim da transmissão vetorial pelo Triatoma infestans (barbeiro). Após essa declaração, a propagação pela via oral da doença foi considerada como sendo o mais importante mecanismo de transmissão do Trypanosoma cruzi no Brasil.
Samuel Cota
Graduando em Ciências Biológica pela UFU.
O bem de Chagas
Em 1909, com apenas trinta anos, Carlos Chagas pisou em Lassance, Minas Gerais, com dois grandes pesos em sua bagagem: os rumores sobre um surto de sífilis que afligia a região e a humildade de sua ciência, que precisou apenas de um microscópio monocular para provar ao mundo a importância do método em sua descoberta.
O Mal que carrega o nome de Chagas é o fruto de um grande bem que sua atitude curiosa trouxe à humanidade. Sua observação minuciosa revelou um aspecto que passava despercebido aos olhos de todos os médicos que se arriscaram na tentativa de encontrar a causa do suposto surto de sífilis. Chagas, foi o único a perceber que a saúde dos trabalhadores da Estrada de Ferro da Central do Brasil estava muito debilitada para disseminar a doença em tamanha proporção. Especialista em Malária (doença majoritariamente vetorizada por insetos), seu conhecimento o levou a questionar a infestação daqueles percevejos listrados muito comuns na região – os famosos barbeiros –, que durante a noite costumavam picar o rosto das pessoas; fato que coincidia com a grande ocorrência de adoecidos, cujos sintomas incluíam as manchas cutâneas e, em casos mais graves, disfunções cardiovasculares.
Numa cidade onde as casas eram predominantemente construídas de madeira e barro, com inúmeras frestas para que os barbeiros pudessem se aninharem, não foi difícil capturar alguns deles e averiguar sua capacidade de vetorizar a doença em questão. Durante a análise, o médico encontrou diversos parasitas (trypanossoma cruzi) no tubo digestivo dos insetos, levando a hipótese de sífilis por água abaixo.
Esse encontro do Adote um Cientista ilustrou não apenas uma relação ecológica negligenciada, mas a história fascinante de um homem e seu pensamento pontual quanto à investigação científica de um organismo desconhecido. Chagas provou que não se faz ciência sem uma boa hipótese e sem um método experimental coerente.
Samuel contou aos jovens do Adote que, mesmo após completar cem anos, a Doença de Chagas ainda não é foco do mercado farmacêutico. Por esse motivo, ainda hoje milhares de hospedeiros (seres humanos) do T. cruzi não recebem tratamento e acabam passando por complicações viscerais que podem levar à morte.
Apresentados ao parasita, os alunos puderam conhecer melhor seu ciclo de vida, as consequências de sua atuação no organismo humano, e os sintomas de cada fase da doença.