Question

Leia o trecho de Dom Casmurro, de Machado de Assis, para responder ao que se pede.

Um dia [Ezequiel] amanheceu tocando corneta com a mão; dei-lhe uma cornetinha de metal. Comprei-lhe soldadinhos de chumbo, gravuras de batalhas que ele mirava por muito tempo, querendo que lhe explicasse uma peça de artilharia, um soldado caído, outro de espada alçada, e todos os seus amores iam para o de espada alçada. Um dia (ingênua idade!) perguntou-me impaciente:
- Mas, papai, por que é que ele não deixa cair a espada de uma vez?
- Meu filho, é porque é pintado.
- Mas então por que é que ele se pintou?
Ri-me do engano e expliquei-lhe que não era o soldado que se tinha pintado no papel, mas o gravador, e tive de explicar também o que era gravador e o que era gravura: as curiosidades de Capitu, em suma.

a) Se estabelecermos uma analogia ou um paralelo entre a gravura, de que se fala no excerto, e o romance Dom Casmurro, os termos “gravador” e “gravura” corresponderão a que elementos internos do romance?

b) Continuando no mesmo paralelo entre “gravura” e Dom Casmurro, pode-se considerar que a lição dada pelo pai ao filho, a respeito da gravura, serve de advertência também para o leitor do romance? Justifique sua resposta.

Answer 1

a) Fazendo uma analogia sobre o romance Dom Casmurro, o Gravador, seria o autor, que se equivale ao protagonista-narrador, Bentinho, que é o autor fictício. A Gravura, assim, se relaciona ao romance em si, a obra criada pelo “gravador-autor”.

 

b) Bentinho ensinou ao filho que os soldadinhos de chumbo não deveriam ser reconhecidos como pessoas, mas sim como miniaturas em que se procurou imitar os combatentes.

 

Tudo o que consta em Dom Casmurro tem de ser considerado como uma lição, em que a ficção é a manobra de elementos estéticos, não é a realidade em que vivemos, mas sim uma representação dela, condicionada, desta forma, às habilidades e aos anseios do “gravador”.