• Matéria: Filosofia
  • Autor: diego719
  • Perguntado 8 anos atrás

como se estabeleceram os quilombos no espírito santo?qual a religião deles?

Respostas

respondido por: joaogoiasozo7pv
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Prisões em série, perseguição e conflitos acossam os quilombolas no norte do Espírito Santo. Nossa reportagem percorreu mais de mil quilômetros para conhecer um cenário onde a violência vem junto com o deserto de eucaliptos.

No Sapê do Norte, uma região tomada por plantações de eucalipto no extremo norte do Espírito Santo, 32 comunidades quilombolas vivem sob forte clima de tensão. Nos últimos sete anos, dezenas de descendentes de escravizados africanos foram parar na cadeia sob a acusação de formação de quadrilha ou furto de madeira.

O episódio mais emblemático ocorreu em novembro de 2009: foram presas pela Polícia Militar 39 pessoas na comunidade São Domingos, uma das maiores da região, onde vivem 150 famílias, entre elas mulheres e idosos, e até um morador cego.

A maior parte das prisões ocorre em uma área administrada pela empresa Fibria, líder mundial na produção de celulose branqueada de eucalipto, entre os municípios de Conceição da Barra e São Mateus – mas que é reivindicada pelas comunidades como seu território ancestral. Ao todo, mais de 100 mil hectares de eucalipto deixam as residências “ilhadas” em meio ao que os quilombolas chamam de “deserto verde”, por causa da seca causada pela monocultura.

O começo

A monocultura do eucalipto começou a avançar sobre o território do Sapê ainda na década de 1960, com o apoio do regime militar. A implantação do monocultivo inicialmente foi considerada uma política de Estado, servindo para a produção de madeira e carvão e, posteriormente, à celulose e ao papel.

Domingo Firmiano dos Santos, o Chapoca, uma liderança quilombola de 56 anos, afirma que antes de o eucalipto chegar as comunidades plantavam, colhiam e produziam farinha e outros alimentos em conjunto. “As terras não tinham divisão certa nem eram marcadas por cercas. As comunidades eram acostumadas a se unir para fazer tudo. A ausência dos títulos e essa forma de organização facilitaram a grilagem. Quem não vendia seu pedaço de terra a preço de banana era pressionado, ameaçado, sendo forçado a deixar o território.”

Depois de um longo processo de reivindicação e protestos, diversas comunidades quilombolas deram entrada em pedidos de demarcação de suas terras a partir de 2005, com base no direito garantido pela Constituição. Hoje, no estado, apenas três têm as terras reconhecidas: duas no sul capixaba (Retiro, em Santa Leopoldina, e São Pedro, em Ibiraçu) e uma na região de Sapê do Norte, chamada São Cristóvão. Nenhuma tem posse definitiva.

Sem lugar para plantar e com o eucalipto invadindo o quintal das casas, as 17 comunidades quilombolas do Sapê usam o corte de madeira e sua transformação em carvão como forma de resistência e retomada do território. A Justiça e a Fibria, entretanto, entendem essas ações como roubo e formação de quadrilha.

Geralmente os cortes são feitos em mutirão. Depois de retirarem a madeira e vendê-la, os quilombolas costumam plantar alimentos sobre a faixa de terra e declará-la como “retomada”. Em algumas plantações mais densas, onde isso é impossível, os quilombolas cortam árvores para conseguir uma forma de subsistência em meio ao mar de eucaliptos. “Não tem serviço nenhum aqui. Renda ninguém tem. O jeito é fazer o mutirão e cortar para sobreviver. Mas isso não é roubar. Nenhum quilombola se sente ladrão. Estamos numa terra que foi tomada da gente, que pertence ao nosso povo, mas foi tomada por meio de enganação e da força”, argumenta Creusa Mota, 61, liderança da comunidade Roda d’Água.


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