(UFPE)
É um mito a pretensa possibilidade de comunicação igualitária em todos os níveis. Isso é uma idealização. Todas as línguas apresentam variantes: o inglês, o alemão, o francês etc. Também as línguas antigas tinham variações. O português e outras línguas românicas provêm de uma variedade do latim, o chamado latim vulgar, muito diferente do latim culto. Além disso, as línguas mudam. O português moderno é muito distinto do português clássico. Se fôssemos aceitar a ideia de estaticidade das línguas, deveríamos dizer que o português inteiro é um erro e, portanto, deveríamos voltar a falar latim. Ademais, se o português provém do latim vulgar, poder-se-ia afirmar que ele está todo errado.
A variação é inerente às línguas, porque as sociedades são divididas em grupos: há os mais jovens e os mais velhos, os que habitam numa região ou noutra, os que têm esta ou aquela profissão, os que são de uma ou outra classe social e assim por diante. O uso de determinada variedade linguística serve para marcar a inclusão num desses grupos, dá uma identidade para seus membros. Aprendemos a distinguir a variação. Quando alguém começa a falar, sabemos se é do interior de São Paulo, gaúcho, carioca ou português. Sabemos que certas expressões pertencem à fala dos mais jovens, que determinadas formas se usam em situação informal, mas não em ocasiões formais. Saber uma língua é conhecer variedades. Um bom falante é "poliglota" em sua própria língua. Saber português não é aprender regras que só existem numa língua artificial usada pela escola.
As variantes não são feias ou bonitas, erradas ou certas, deselegantes ou elegantes; são simplesmente diferentes. Como as línguas são variáveis, elas mudam. "Nosso homem simples do campo" tem dificuldade de comunicar-se nos diferentes níveis do português não por causa da variação e da mudança linguística, mas porque lhe foi barrado o acesso à escola ou porque, neste país, se oferece um ensino de baixa qualidade às classes trabalhadoras e porque não se lhes oferece a oportunidade de participar da vida cultural das camadas dominantes da população.
FONTE: FIORIN, José Luiz. Atas do I Congresso Nacional da ABRALIN. Excertos.
A análise feita no texto, sobre a variação linguística, permite ao leitor inferir que (mais de uma alternativa pode estar correta):
O fato de um camponês apresentar dificuldade de comunicar-se nos diferentes níveis do português deve-se prioritariamente às variantes linguísticas.
As línguas não somente variam com o passar do tempo, mas também com as diferenças de grupos sociais.
A variação das línguas não é um fenômeno exclusivamente linguístico; é também um fenômeno social.
A existência da língua portuguesa é uma prova da não estaticidade das línguas, neste caso do latim.
Algumas variantes, mais populares, são amostras de como o português é falado fora de um padrão que é correto, bonito e elegante.
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A variação das línguas não é um fenômeno exclusivamente linguístico; é também um fenômeno social.
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