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O texto abaixo é uma versão resumida do capítulo “Introdução a uma História Indígena”, escrito por Manuela Carneiro da Cunha, que foi também a organizadora do livro “História dos índios no Brasil”, livro no qual consta o referido capitulo ora resumido. Para a realização de tal resumo foram utilizadas quase que completamente as próprias palavras de Manuela Carneiro da Cunha.
Introdução a uma História Indígena – Manuela Carneiro da Cunha
Deste paraíso assim descoberto, os portugueses eram o novo Adão.
A presença desses outros homens (e rapidamente se concorda, e o papa reitera em 1537, que são homens) desencadeia uma reformulação das idéias recebidas: como enquadrar essa parcela da humanidade na história geral? De qual dos filhos de Noé proviriam os homens do Novo Mundo? Por que meios teriam cruzado os oceanos antes que os descobridores tivessem domesticado os mares? Questões que continuam colocadas hoje e não se encontram completamente resolvidas.
Origens
Hipótese de uma migração terrestre vinda do nordeste da Ásia e se espraiando de norte a sul pelo continente americano (em função de uma glaciação que teria ocorrido de 35 mil a 12 mil anos atrás). Há também possibilidades de entrada marítima no continente pelo estreito de Bering. A possibilidade de outras fontes populacionais e de rotas alternativas se somando à do interior da Beríngia não está descartada.
Presença da História Indígena
Sabe-se pouco da história indígena: nem a origem, nem as cifras de população são seguras, muito menos o que realmente aconteceu. Os estudos de caso permitem não incorrer em certas armadilhas. A maior é talvez a ilusão do primitivismo. Na segunda metade do século XIX, época de triunfo do evolucionismo, prosperou a idéia de que certas sociedades teriam ficado na estaca zero da evolução, e que eram portanto algo como fósseis vivos que testemunhavam do passado das sociedades ocidentais. Foi quando as sociedades sem Estado se tornaram, na teoria ocidental, sociedades “primitivas”, condenadas a uma eterna infância. E porque tinham assim parado no tempo, não cabia procurar-lhes a história.
Somos tentados a pensar que as sociedades indígenas de agora são a imagem do que foi o Brasil pré-cabralino e que sua história se reduz estritamente à sua etnografia.
Na realidade, a história está onipresente.
Está presente, primeiro, moldando unidades e culturas novas, cuja homogeneidade reside em grande parte numa trajetória compartilhada.
Está presente ainda na medida em que muitas das sociedades indígenas ditas “isoladas” são descendentes de “refratários”, foragidos de missões ou do serviço de colonos que se “retribalizaram” ou aderiram a grupos independentes (A idéia do isolamento deve ser usada com cautela, pois há um contato mediatizado por objetos, machados, miçangas, capazes de percorrerem imensas extensões, mediante comércio e guerra, e de gerarem uma dependência à distância.
Está presente também no fracionamento étnico que vai de par, paradoxalmente, com uma homogeneização cultural: perda de diversidade cultural e acentuação das micro diferenças que definem a identidade étnica. O que é hoje o Brasil indígena são fragmentos de um tecido social cuja trama cobria provavelmente o território como um todo.
Está presente, sobretudo, a história, na própria relação dos homens com a natureza. As sociedades indígenas de hoje não são o produto da natureza, antes suas relações com o meio ambiente são mediatizadas pela história.
Introdução a uma História Indígena – Manuela Carneiro da Cunha
Deste paraíso assim descoberto, os portugueses eram o novo Adão.
A presença desses outros homens (e rapidamente se concorda, e o papa reitera em 1537, que são homens) desencadeia uma reformulação das idéias recebidas: como enquadrar essa parcela da humanidade na história geral? De qual dos filhos de Noé proviriam os homens do Novo Mundo? Por que meios teriam cruzado os oceanos antes que os descobridores tivessem domesticado os mares? Questões que continuam colocadas hoje e não se encontram completamente resolvidas.
Origens
Hipótese de uma migração terrestre vinda do nordeste da Ásia e se espraiando de norte a sul pelo continente americano (em função de uma glaciação que teria ocorrido de 35 mil a 12 mil anos atrás). Há também possibilidades de entrada marítima no continente pelo estreito de Bering. A possibilidade de outras fontes populacionais e de rotas alternativas se somando à do interior da Beríngia não está descartada.
Presença da História Indígena
Sabe-se pouco da história indígena: nem a origem, nem as cifras de população são seguras, muito menos o que realmente aconteceu. Os estudos de caso permitem não incorrer em certas armadilhas. A maior é talvez a ilusão do primitivismo. Na segunda metade do século XIX, época de triunfo do evolucionismo, prosperou a idéia de que certas sociedades teriam ficado na estaca zero da evolução, e que eram portanto algo como fósseis vivos que testemunhavam do passado das sociedades ocidentais. Foi quando as sociedades sem Estado se tornaram, na teoria ocidental, sociedades “primitivas”, condenadas a uma eterna infância. E porque tinham assim parado no tempo, não cabia procurar-lhes a história.
Somos tentados a pensar que as sociedades indígenas de agora são a imagem do que foi o Brasil pré-cabralino e que sua história se reduz estritamente à sua etnografia.
Na realidade, a história está onipresente.
Está presente, primeiro, moldando unidades e culturas novas, cuja homogeneidade reside em grande parte numa trajetória compartilhada.
Está presente ainda na medida em que muitas das sociedades indígenas ditas “isoladas” são descendentes de “refratários”, foragidos de missões ou do serviço de colonos que se “retribalizaram” ou aderiram a grupos independentes (A idéia do isolamento deve ser usada com cautela, pois há um contato mediatizado por objetos, machados, miçangas, capazes de percorrerem imensas extensões, mediante comércio e guerra, e de gerarem uma dependência à distância.
Está presente também no fracionamento étnico que vai de par, paradoxalmente, com uma homogeneização cultural: perda de diversidade cultural e acentuação das micro diferenças que definem a identidade étnica. O que é hoje o Brasil indígena são fragmentos de um tecido social cuja trama cobria provavelmente o território como um todo.
Está presente, sobretudo, a história, na própria relação dos homens com a natureza. As sociedades indígenas de hoje não são o produto da natureza, antes suas relações com o meio ambiente são mediatizadas pela história.
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