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Em política, o modo como os eventos são percebidos importa e gera consequências. Essa característica do processo político ajuda no entendimento das implicações do cada dia mais provável afastamento da presidente Dilma. Indo direto ao ponto: enquanto não houver, por um lado, prova cabal contra Dilma e/ou a sua campanha e, por outro, a prisão ou punição de um “peixe grande” do lado da atual oposição, a saída da mandatária será percebida, por um segmento considerável do eleitorado, como um golpe e esse fato tem consequências desastrosas para a democracia.
A demonstração de que entrou dinheiro da propina da Petrobras na campanha de 2014 faria prova suficiente para afastar a presidente (e, nesse caso, talvez o vice). Evidências fortes de manobras para obstruir a Justiça teriam o mesmo efeito. Providências efetivas da Justiça contra, por exemplo, Eduardo Cunha - privando-o do mandato e retirando-o da presidência da Câmara, - reduziriam a impressão de seletividade contra o PT até aqui ainda forte.
O problema é que se caminha com velocidade crescente para a queda da presidente sem que nenhuma das duas condições acima seja satisfeita. Persistem dúvidas sobre a existência de crime grave o suficiente para justificar a perda de mandato vindo das urnas. Parte da elite - viciada nas mesmas práticas corruptas pelos quais o PT é acusado e começa a ser punido - permanece livre e ocupando cargos estratégicos da República. Em alguns casos, desempenhando papéis centrais no próprio impeachment. É cada vez mais provável que Dilma caia e que isso seja interpretado como um golpe por cerca de um terço da população brasileira. Isso traz consigo a assustadora possibilidade de que se envenene pelo ressentimento a política e a sociedade brasileira não por anos, mas por décadas à frente. Esse talvez seja o ponto mais preocupante dessa gigantesca barafunda.
Não se trata apenas de aceitar que a crise, em modo mais ou menos agudo, irá até as eleições de 2018, turbinada pelo fim da esperada “lua de mel” do mercado e da população com os novos governantes, resultado de medidas econômicas amargas que virão e da lâmina da Lava-Jato, que seguirá desestabilizando o que restar do sistema político no pós-PT e renovando, com doses periódicas de revelações, a indignação da população. O grande risco é retirar Dilma do Planalto deixando um segmento da população na convicção de que ocorreu um golpe “branco”. Se isso acontecer, as regras de convivência estarão irremediavelmente alteradas para pior. O vale-tudo, predatório e cínico, será regra e não desvio. Qualquer ator político e social importante que avaliar que há condições para forçar a ampliação do próprio poder não hesitará em jogar “sujo”. Terá terminado a experiência pós-88, embora isso não vá ficar claro de imediato, uma vez que teremos eleições e predominarão os civis. Mas estaremos noutro lugar e atmosfera em termos institucionais, muito piores do que tudo que conhecemos até aqui.
A demonstração de que entrou dinheiro da propina da Petrobras na campanha de 2014 faria prova suficiente para afastar a presidente (e, nesse caso, talvez o vice). Evidências fortes de manobras para obstruir a Justiça teriam o mesmo efeito. Providências efetivas da Justiça contra, por exemplo, Eduardo Cunha - privando-o do mandato e retirando-o da presidência da Câmara, - reduziriam a impressão de seletividade contra o PT até aqui ainda forte.
O problema é que se caminha com velocidade crescente para a queda da presidente sem que nenhuma das duas condições acima seja satisfeita. Persistem dúvidas sobre a existência de crime grave o suficiente para justificar a perda de mandato vindo das urnas. Parte da elite - viciada nas mesmas práticas corruptas pelos quais o PT é acusado e começa a ser punido - permanece livre e ocupando cargos estratégicos da República. Em alguns casos, desempenhando papéis centrais no próprio impeachment. É cada vez mais provável que Dilma caia e que isso seja interpretado como um golpe por cerca de um terço da população brasileira. Isso traz consigo a assustadora possibilidade de que se envenene pelo ressentimento a política e a sociedade brasileira não por anos, mas por décadas à frente. Esse talvez seja o ponto mais preocupante dessa gigantesca barafunda.
Não se trata apenas de aceitar que a crise, em modo mais ou menos agudo, irá até as eleições de 2018, turbinada pelo fim da esperada “lua de mel” do mercado e da população com os novos governantes, resultado de medidas econômicas amargas que virão e da lâmina da Lava-Jato, que seguirá desestabilizando o que restar do sistema político no pós-PT e renovando, com doses periódicas de revelações, a indignação da população. O grande risco é retirar Dilma do Planalto deixando um segmento da população na convicção de que ocorreu um golpe “branco”. Se isso acontecer, as regras de convivência estarão irremediavelmente alteradas para pior. O vale-tudo, predatório e cínico, será regra e não desvio. Qualquer ator político e social importante que avaliar que há condições para forçar a ampliação do próprio poder não hesitará em jogar “sujo”. Terá terminado a experiência pós-88, embora isso não vá ficar claro de imediato, uma vez que teremos eleições e predominarão os civis. Mas estaremos noutro lugar e atmosfera em termos institucionais, muito piores do que tudo que conhecemos até aqui.
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