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O ano de 1972 foi marcado pelo Sesquicentenário da Independência do Brasil, evento largamente utilizado pelo governo autoritário vigente no período para demarcar práticas culturais, com o propósito de justificar a contemporaneidade ditatorial, posta como desvinculada das formas de governo entendidas como populistas, para promover o desenvolvimentismo, em nome da recuperação de princípios “democráticos e cristãos”. A configuração deste processo histórico envolve o investimento maciço dos militares na construção de heróis nacionais, selecionados e promovidos em nome da geração de uma memória oficial e institucionalizada, capaz de personificar um passado sugestivo de uma continuidade nas lideranças militares.
Atenção redobrada recaiu sobre a personagem de D. Pedro I, sobretudo por conta dos símbolos e alegorias elaborados durante as comemorações do Sesquicentenário da Independência. Até então, o Imperador era integrante do panteão de heróis nacionais, porém, tornou-se oportuno frisar sua característica como personagem dotada de forte caráter militar. Esta situação possibilitou ao governo militar envidar esforços, na tentativa de recorrer a uma institucionalização do mito do “imortal” D. Pedro I, levada a cabo por meio da sacralização do corpo do monarca, mediante o traslado de seus restos mortais para o Brasil.
Este projeto governista envolve a aproximação entre Brasil e Portugal, por meio de uma espécie de reciprocidade histórica e suas representações imagéticas, as quais foram veiculadas em periódicos de expressiva circulação nacional, a exemplo das edições comemorativas das Revistas O Cruzeiro e Manchete, foco de análise e problematização do texto, que ora se apresenta. A produção e a difusão das tramas imagéticas em torno da figura de D. Pedro I por intermédio destas publicações estão imbricadas às festividades dos cento e cinquenta anos da Independência do Brasil. Além disso, as imagens integram e referenciam a “maquinaria” festiva dos militares e seus usos da história pátria, no afã de apropriar-se de eventos cívicos para fazer valer o lema de “comemorar para bem perpetuar” e legitimar a memória constituída em torno de heróis militares.