• Matéria: Português
  • Autor: thaisbrito13p82g88
  • Perguntado 8 anos atrás

analise do poema AMAR - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

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respondido por: FelipeDemarchi
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Carlos Drummond de Andrade

O aspecto antitético do amor na poesia de Carlos Drummond de Andrade se faz presente no poema Amar como muito bem é exposto por Affonso Romano de Sant’Anna, no livro Carlos Drummond de Andrade: Análise da Obra, levando este sentimento ao recorrente dualismo: “construção-destruição”. “ganho-perda”, “instante-eternidade”.

Para representar esta antítese, o eu-lírico utiliza-se de imagens marinhas. Neste sentido o mar, no dicionário de símbolos representa:

Símbolo da dinâmica da vida. Tudo sai do mar e retorna a ele: Lugar dos nascimentos, das transformações e dos nascimentos. Águas em movimento, o mar simboliza um estado transitório entre as possibilidades ainda informes as realidades configuradas, uma situação de ambivalência, que é a de incerteza, de dúvida, de indecisão e que pode se concluir bem ou mal. Vem daí que o mar é ao mesmo tempo a imagem da vida e a imagem da morte. (Chevalier & Gheerbrant, 1996, p.592)

Outros símbolos manifestos na poesia como as palavras concha e deserto também comportam essa ambivalência. O primeiro “evocando as águas onde se forma, participa do simbolismo da fecundidade própria da água. Sua forma e sua profundidade lembram o órgão sexual feminino...”, mas a “concha está ligada também à idéia de morte pelo fato de ser a prosperidade que ela simboliza, para uma pessoa ou para uma geração, o resultado da morte do ocupante primitivo da concha, ou da morte da geração precedente.” O segundo se faz “a partir da simples imagem da solidão. É a esterilidade, sem Deus. É a fecundidade, com Deus...”

palavra sal também apresenta um fio semântico muito expressivo no poema. Neste caso, sal é antítese do amor representando amargura, mas também é o tempero.

Este conflito que perpassa a poesia, acaba se traduzindo entre o “efêmero e o eterno”, “transitório e definitivo”, tendo em vista que a continuidade que se requer do amor enquanto sinônimo de vida, o coloca no mesmo nível que o tempo: destruidor.

Desta forma, os objetos que o poeta se esforça por amar revelam a precariedade do ser humano. O amor é visto, portanto, pelo eu-lírico como negatividade, pois se desfaz, se esvai ao longo do tempo, estando por assim dizer estreitamente ligado a dor, ao frio, a secura. Na 4° estrofe a constatação do poeta fica mais explícita quando exprime: “Este o nosso destino: amor sem conta”, ou seja, doar a esse amor irrefreavelmente, porém nunca tê-lo de forma absoluta, pois ele é perecível como o tempo.

A frustração, a angústia, a impotência é reflexo da ausência deste amor que o ser humano sente, vendo “frustrar-se sua única possibilidade de absoluto, sua única chance de alçar-se acima de sua falácias”, sugerindo então o eu-poético, amar mesmo assim na ausência deste amor, a falta dele que acaba por se corporificar na sua dor, que nada mais é que o seu vazio.


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