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Houve um tempo em que Diário de adolescente não passava de anotações de pequenos segredos da sua iniciante vida amorosa e registros de aniversários dos melhores amigos. Geralmente tratava-se de um caderninho de capa rosa em espiral, os mais sofisticados vinham até com um minúsculo cadeado para garantir que todos os seus segredos ficassem guardados a chave.
Neste pequeno e inocente caderno registrava-se desde a sua menarca até os segredos mais cabeludos, como o primeiro beijo de língua. Conforme os diálogos com seu diário iam esquentando, maior era a necessidade de esconder mais e mais. Às vezes algumas anotações como uma nota baixa nas provas, a bronca que levara dos pais, a briga com uma colega da sala e até mesmo alguns palavrões que só poderiam ser registrados ali. Na sua grande maioria, tudo rolava mesmo em torno da pequena vida amorosa.
Para deixar uma adolescente extremamente nervosa era só ameaçar revelar que tinha um diário, pois não eram somente os seus segredos que fazia questão de guardar, a existência do diário era seu segredo principal.
Ter um diário naquele tempo era uma mania de qualquer adolescente do mundo, independente de onde, como e com quem vivia. Até mesmo aquelas que viviam entre balas de canhão e tiros de inimigos, encontravam uma maneira de dialogar com o seu e revelar seus medos, perdas e sofrimentos. Revelações estas, que vieram a virar livros e filmes.
É, mais o tempo passou, e como passou! O diário de capa rosa, com cadeado, que trazia segredinhos tão gostosos de ler quando era encontrado por acaso por outra pessoa que não fosse dona, foi substituído por perigosas e sofisticadas máquinas eletrônicas. O nosso jovem também mudou. Ele não tem mais um diário para registrar o início da sua vida amorosa, hoje ele faz questão de deixar registrado numa página de face book ou outra qualquer todos os seus desatinos em rede mundial, muitas vezes não somente escrito, mas também com imagens. Hoje, em tempos modernos, nossos jovens não fazem questão de ter amigos palpáveis, os amigos são virtuais. Estes supostos “amigos” nem sempre são amigos de fato. Se não existem segredos, não existem amigos, portanto, não existe diário. O que existe hoje é uma infinidade de troca de conversas sem nexo, sem pudor, sem segredos. Nas páginas virtuais estão registrados suas angústias, decepções amorosas, inseguranças, desavenças, conflitos familiares, bulling, sexo explícito e muitos relatos de agressões físicas e planos de crimes bárbaros. Planos estes que acabam saindo do mundo virtual para o mundo real. No tempo do diário de capa rosa com cadeado, os registros saiam do mundo real para as telas, hoje os registros saem das telas para entrar no mundo real.
Renilda D Viana