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Toda semana são noticiados casos de violência nas escolas brasileiras. Infelizmente, o problema não é um exagero criado pela mídia, mas sim uma realidade enfrentada diariamente por milhares de professores das redes pública e privada.
Dentre os casos mais comuns de violência, podemos citar as ameaças feitas por alunos a professores, sobretudo a respeito de baixo rendimento escolar. Uma nota abaixo da média nem sempre é entendida como um alerta para que o aluno melhore e estude com mais afinco: para muitos estudantes, a nota é compreendida como ofensa pessoal. Alguns ficam no enfrentamento verbal, enquanto outros partem para agressão física ou provocam danos a bens do professor, sobretudo carros (pneus furados são os relatos mais comuns). Depredações a patrimônios da escola e arrombamentos de salas também integram o vasto rol de atitudes violentas no ambiente escolar. O tipo de violência mais comum, entretanto, se dá entre os próprios estudantes.
Apesar de a violência física estampar um número muito maior de manchetes, é a violência moral que mais assusta aos professores de todos os níveis de ensino, desde o Infantil ao Superior. Xingamentos, gestos obscenos, perturbações, indisciplina. Problemas que atrapalham o andamento das atividades pedagógicas e os relacionamentos dentro da escola. Os casos de bullying – a violência moral entre os próprios alunos – também chocam educadores e familiares, inclusive ultrapassando os muros da escola e chegando ao ambiente virtual, no qual situações vexatórias de alunos podem ser acessadas por qualquer pessoa.
s notícias recentemente veiculadas sobre agressões de alunos a professores em escolas têm uma forte vertente sensacionalista e um viés um tanto superficial, ouvindo basicamente a perspectiva dos adultos (mesmo assim, não a de todos os envolvidos na comunidade escolar) e realçando prioritariamente a violência dos alunos contra os professores. Isso é um desserviço à educação porque cria estigmas, simplifica a questão e induz à busca de soluções igualmente simplistas e, por isso, ineficientes. Na verdade, alimenta o problema. A violência na escola é uma questão muito séria e complexa e merece um olhar cuidadoso e responsável.
Se é verdade que a violência está na sociedade e não apenas na escola, que a reproduz, é verdade também que há violências produzidas no interior da própria escola. Muitas delas funcionam como prisões e lançam mão de formas autoritárias de “manter a disciplina”; baseadas mais nas interdições – no que é proibido – do que no investimento na formação de sujeitos capazes de praticar formas democráticas de convívio, as escolas produzem assim um contexto potencialmente violento.
Para esta discussão é necessário olhar as muitas violências que ocorrem no cotidiano da escola: as institucionais, as interpessoais, as físicas, psicológicas, simbólicas… Todas geram uma pressão contínua e que podem causar explosões – maiores ou menores – em determinados momentos e situações. Não queremos com isso minimizar ou justificar a gravidade das agressões dos alunos, pelo contrário. Estes fatos explicitam a situação extrema de hostilidade no ambiente escolar.
Adultos e estudantes são agentes e vítimas dessas violências. Preconceitos, discriminações, humilhações, desrespeito. Do ponto de vista dos alunos, uma das violências mais sentidas – e permanentes – é o não atendimento de suas necessidades de aprendizagem e a falta de sentido do que se ensina e do que se aprende, que acabam funcionando como formas de submissão. Outra é a invisibilidade dos alunos gerada pela falta de escuta, de espaços de participação e de reconhecimento de suas demandas.
Ao mesmo tempo, os adultos da escola têm uma rotina puxada, atuam sem condições de trabalho adequadas, que garantam tempo e espaço para se dedicar à complexidade educacional, e nem sempre são autoridades legitimadas pelos alunos. Na prática, fica uma tensão entre o desafio de ensinar conteúdos e o gerenciamento de indisciplinas dos alunos, e assim, a escola não consegue cumprir sua função primordial de educar, pois ninguém aprende e ninguém educa em um ambiente inóspito.
A experiência do projeto Respeitar é Preciso! mostra que sem dar atenção às questões que perpassam o cotidiano escolar, o caldo de violências é continuamente engrossado por discriminações e preconceitos de todo tipo. Nestas condições, as relações internas da escola tornam-se tensas, desgastantes e pouco frutíferas.
A violência nas escolas, um tema difícil, precisa ser analisada com a seriedade necessária. Nos preocupa muito a abordagem e o tratamento simplista dado pela mídia ao tema que, sem contextualização adequada, pode levar a conclusões enviesadas. Apontar, mais uma vez, os alunos como os culpados pela grave situação de violência nas escolas é injusto, perpetua o estigma e não encara o problema de frente.
Equipe do Respeitar é Preciso!
Instituto Vladimir Herzog
21 de setembro de 2017
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