Respostas
Foi-se, por vezes, buscar no léxico existente a palavra própria para denotar o objeto novo (ex.: comboio), mas, na maior parte dos casos, recorreu-se, como nas outras línguas românicas — e sobre o seu modelo — às raízes greco-latinas; ex.: automóvel, autocarro, televisão. A língua continua, assim, a criar termos eruditos como sempre fez, desde as suas origens. Resulta daí um considerável número de formas divergentes derivadas da mesma raiz, portadoras de sentidos próximos ou, ao contrário, muito diferentes; ex.: artigo (forma semi-erudita), artículo (forma erudita), artelho (forma do patrimônio hereditário), lídimo, legítimo e lindo, ou ainda as variantes malha-mancha-mácula-mágoa. As formas eruditas não raro suplantaram as formas populares que as precederam, de maneira que o português latiniza mais hoje do que o fazia outrora; assim fremoso foi substituído por formoso; esprito ou esp(e)rito, por espírito; os ordinais do tipo onzeno, dozeno, trezeno cedem lugar a décimo primeiro ou undécimo, etc.; os superlativos em -íssimo penetraram na língua falada, etc.
Os empréstimos às línguas européias foram e continuam a ser numerosos. São principalmente de origem francesa; ex.: chefe, boné, blusa, rouge, blindar, camuflagem, vitrina, chique. A caça aos galicismos é um dos temas preferidos dos puristas, O galicismo, porém, penetra em todas as áreas: se petiz (em lugar de miúdo) é pura e simples transposição do francês, constatar (em vez de verificar) é já mais insidioso; e com contestação, no sentido de “oposição crítica”, o galicismo é apenas semântico. Os giros Praça Camões (em vez de Praça de Camões), Tipografia Rodrigues explicam-se pelo francês, assim como lenços em seda (de seda), aumentar de um metro (aumentar um metro), de maneira a (de maneira que). Em síntese, quase toda a fraseologia do português contemporâneo sofreu influência do francês.
Mas outras línguas também contribuíram com seu contingente vocabular. É o caso do italiano (arpejo, piano, sonata) e, sobretudo, do inglês, cuja influência se tornou particularmente forte depois da última guerra.