para entender o lugar da Criança é preciso entender que a infância corresponde a consciência da particularidade infantil que existe nesse momento
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Desta forma, observo que conforme há transformações na estrutura social começa a se mudar também o conceito de infância, e isso frente à organização familiar; porque não se compreendia de certa forma e não se pensava a infância como na atualidade, ou seja, não se pensava, e não se sabia o que representava ser criança; isso porque a criança não se diferenciava do adulto e não era representada significamente na família, era vista como somente ligada ao grupo como qualquer outro personagem do contexto. (Áries, 1979, p.14). A percepção que se tinha era de um "ser em miniatura" que tinha que aprender a viver juntamente com os demais.
Mas esses são alguns dos sentimentos de infância que Áries (1976) traz, ele mostra que com o passar do tempo e em cada época se criava um sentimento, um modo de perceber a infância, e foi o que ocorreu ao fim da Idade Média, onde surgiu a percepção da criança como um ser inocente, divertido, é o sentimento de "paparicação", onde a criança era vista como fonte de distração dos adultos. E após contrário a este sentimento surge o sentimento de irritação que segundo Áries, não se suportava o sentimento de paixão pelas crianças, na qual as pessoas beijavam estas. (p.158)
Portanto, observo a cada época à busca para entender quem era a criança, em que lugar colocá-la em sociedade, ou seja, uma busca pela significação da infância, porque não se tinha claro para a sociedade o que era esta fase. Segundo Áries (1976) "o sentimento da infância corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem". (p.156). E isso não era visível a essas épocas ainda.
Contudo, voltando às épocas mais atuais observamos que o reconhecimento por essa começa a aparecer, e esse reconhecimento vem segundo Paula (2005):
Com o estabelecimento de uma nova ordem política, social e econômica, impulsionada por diversos fatores, dentre os quais o capitalismo industrial, o neoliberalismo e suas conseqüências (migrações, surgimento da família nuclear e burguesa, adstrição da criança à família e idéia de escola), ocorreram transformações que influenciaram a organização da estrutura familiar e, consequentemente a vida das crianças. (p.1)
Com novas viabilizações da estrutura social, econômica e familiar, começa a voltar se a pensar na criança como um sujeito despreparado para tal sociedade, e desta forma surge à necessidade de prepará-la para viver neste novo estabelecimento; surge então a questão de escolarizar as crianças prepará-la para o futuro, e esse é um olhar que persiste até dias atuais, pois surgiu com a questão da industrialização, porque não tinha sido necessário até esta época escolarizar as crianças, as escolas existiam para os maiores.
Isto mostra uma nova percepção da infância, e me faz pensar como houve a variação das concepções no decorrer dos anos, e isto é perceptível a meu ver, ao observar as concepções que relacionei anteriormente. Segundo os Referenciais curriculares (1998) "a concepção de criança é uma noção historicamente construída e consequentemente vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e época". (p.21).
Sobre estas variações me debruço a observar à concepção de infância nos dias atuais onde é possível ver o reconhecimento da criança, da infância como "um vir a ser" no futuro, é um olhar que por mais que se direciona a pensar nas crianças como sujeitos ativos e produtores de culturas ainda se almejam o preparo destas para o futuro desconsiderando-se o presente. Daí surge as problematizações sobre questões da concepção da infância na atualidade: a criança já é no presente, ou será somente no futuro? Deve ser considerada no presente ou deve ser vista somente como um ser que será só no futuro desconsiderando o que ela é, sua vida, seu olhar e sua formação no presente?
Andrade (2007) que discute a concepção do "ser criança" na sociedade atual trazendo, dados de uma pesquisa feita por ela em seus trabalhos que trouxe indicações da criança estar sendo tida como um "ainda não", algo que se tornará sujeito um dia (quando adulto), pois esta tem sido vista como uma extensão dos pais, ou seja, não tem direitos próprios. (p.2)
A autora complementa dizendo que as crianças têm sido consideradas como "menores" ou "ainda não cidadãos"; ressalta que, "a infância como realidade social, tem frequentemente permanecida afastada e excluída das reflexões sobre problemas sociais e qualidade de vida", pois "a moratória infantil (o ainda não) faz com que a criança esteja sempre em lugar de objeto em um processo macrossocial encaminhado a uma futura sociedade ideal"