• Matéria: Ed. Física
  • Autor: Jtjgu
  • Perguntado 7 anos atrás

O que que é um ser humano vivo e morto

Respostas

respondido por: pereiramariane0
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Resposta:

O tema da morte acompanha o ser humano desde os primórdios de sua existência, tanto no sentido ontológico quanto vivencial. Nossos mais remotos antepassados recorriam aos deuses como último recurso, talvez, para enfrentar o temor do desconhecido, conseqüência inevitável decorrente da perda da vida. Ao longo dos milênios de sobrevivência da espécie humana, a luta pela manutenção da vida contra o desaparecimento, contra a morte - especialmente a morte prematura - criou, nos confins da mente, sinais e símbolos representativos dos temores evocados pela fragilidade da existência humana. A perspectiva constante de extinção da espécie incrementou o desenvolvimento de sistemas mentais e socioculturais sofisticados e intrincados a fim de permitir ao indivíduo lidar com as angústias de se defrontar com o seu desaparecimento. Surgiram as religiões, os rituais e os mitos, usados como tentativas de explicar e dar conta da imensa gama de emoções despertadas pelo temor da morte.

A morte que se instala de modo gradativo ou súbito no indivíduo e oferece, a quem o observa, a visão do desaparecimento dos sinais vitais, da inércia paralisada e irrecuperável das expressões faciais, da imobilidade do corpo apesar das súplicas, traz à tona, no vivente, emoções imemoriais de sua própria mortalidade. O reconhecimento do corpo morto, semelhante a seu próprio corpo vivo, identifica-o na fragilidade tênue do passamento do último suspiro exalado. Como não se aterrorizar? Como não ser atraído morbidamente na observação do corpo que jaz, procurando nele algum resquício, algum sinal que indique o destino último daquele que foi e deixou de ser?

O corpo morto reacende emoções impensáveis em quem permanece vivo. Este não tem como evitá-las, nem como devolvê-las a quem as despertou, pois se torna prisioneiro de angústias ancestrais, que tiveram origem em seus mais remotos antepassados. Os ouvidos mortos e sem alma não podem receber as tentativas de descargas emocionais projetadas, nem as acusações do sofredor. Instala-se a incomunicabilidade, defronta-se o vivo com uma muralha surda e intransponível a qualquer súplica ou grito lancinante na tentativa irrealizável de um último contato

Explicação:

O morto, porém, impregna o vivo. Penetra-o, domina-o e, apesar de morto, recupera-se como objeto interno carregado de significações e de intenções. Nossos antepassados não conheciam a Psicanálise. As lembranças e os sentimentos são, porém, inerentes ao ser humano e, com esses ingredientes, entre tantos outros, foram construídos, paulatinamente, os sentidos obscuros dos trajetos mentais inconscientes.

O morto domina o vivo. Insinua-se de modo a se fazer presente em sua mente, modificado, camuflado, imiscuindo-se nos pensamentos ocultos, nas fantasias, nos sonhos e nos desejos. Torna-se vivo. Determinante de ações e pensamentos do vivente.

Mas, de qual morto estamos falando? Será daquele indivíduo que, enquanto vivo, tinha uma vida particular, com suas próprias motivações e emoções, que trabalhava, que amava e odia-va, que tinha uma família, que sentia frustrações, alegrias e dores, e que um dia morreu? Ou estamos falando do indivíduo morto e observado, do indivíduo captado pela relação estabelecida com o outro, transformado e interpretado por este conforme os seus próprios processos psíquicos?

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