pesquisa depoimento de uma pessoa contando como foi a ditadura militar, me ajudem pfvr é urgente
Respostas
Confere o depoimento de uma professora que viveu na época da ditadura:
Izabel Fávero, professora
Meu sogro tinha ali uma pequena fazenda, e vimos que ali era um lugar estratégico, onde inicialmente a gente contaria com o apoio deles e em seguida a VAR viria suprir as nossas necessidades pra que a gente pudesse fazer o trabalho político. Nessa noite, lá em casa, eles prenderam também meu sogro e minha sogra, já idosos, e meu sogro ficou algemado a uma árvore, minha sogra ficou na sala, também algemada, e aí… [pausa, voz embargada].
Não tinha luz na fazenda, não tinha nem na casa, então eles acenderam um monte de candeeiros, velas, e uma das coisas que eles diziam, eles ameaçavam inclusive incendiar a casa com a gente lá dentro. Nós fomos, já em casa, torturados, um em frente ao outro, eles tinham uma máquina de choque, que eles chamavam de “Maricota”, aí batiam na gente com toalhas molhadas, tinha um alicate, beliscavam a gente no corpo, e meu marido, eles levaram, jogaram ele no córrego que tinha ao lado de casa, deram choques elétricos, dentro do córrego, ele ficou com traumas o resto da vida, ele teve problemas urinários, ele teve que tratar a vida toda.
E aí, no dia seguinte, nós fomos embarcados, eu numa ambulância, meu marido num caminhão do Exército, e eles deixaram entender que iam nos levar para Curitiba, a gente saiu e ninguém sabia o nosso destino. Mas eles trouxeram a gente para o Batalhão de Fronteira. O prazer deles era torturar um frente ao outro e dizer “olhe, sua vad** ó ele está apanhando por culpa sua que você não quer colaborar”, entendeu? Ou o contrário, entende? Era um jogo de tortura psicológica, física, pra desestruturar mesmo, desestabilizar a gente. Eu fui muito ofendida, como mulher, porque ser mulher e militante é um carma, a gente, além de ser torturada física e psicologicamente, a mulher é vad**, a palavra mesmo era “p**a" “menina decente, olha para a sua cara, com essa idade, olha o que tu está fazendo aqui, que educação os teus pais te deram, tu é uma vad**, tu não presta”, enfim, eu não me lembro bem se no terceiro, quarto dia, eu entrei em processo de aborto, eu estava grávida de dois meses, então eu sangrava muito, eu não tinha como me proteger, eu usava papel higiênico, e já tinha mal cheiro, eu estava suja.
E o meu marido dizia, “por favor, não façam nada com ela, podem, podem me torturar, mas ela tá grávida”, e eles riam, debochavam, “isso é história, ela é suja, mas não tem nada a ver”, enfim. Em nenhum momento isso foi algum tipo de preocupação, em relação [pausa, voz embargada]. Eu certamente abortei por conta dos choques que eu tive nos primeiros dias, nos órgãos genitais, nos seios, ponta dos dedos, atrás das orelhas, aquilo provocou obviamente um desequilíbrio, eu lembro que eu tinha, muita, muita, muita dor no pescoço, porque quando a gente, quem sofreu choque, sabe? A gente joga a cabeça pra trás, aí tinha um momento que eu não sabia mais aonde doía, o que, doía em todo lado, mas enfim. Certamente foi isso. (Íntegra.)
Espero ter ajudado!