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O câncer infanto-juvenil (abaixo de 19 anos) é considerado raro quando comparado com os tumores do adulto, correspondendo entre 2% e 3% de todos os tumores malignos. Estimativa realizada pelo
Instituto Nacional de Câncer (INCA) para o biênio 2008/09 revela que ocorrerão cerca de 9.890 casos
por ano em crianças e adolescentes com até 18 anos de idade (INCA, 2007). O Brasil possui uma população jovem. A estimativa populacional para o ano de 2007 apontou que 38% da população brasileira
encontrava-se abaixo dos 19 anos (Minstério da Saúde, 2008).
Em países desenvolvidos, o câncer pediátrico é a segunda causa de óbito entre 0 e 14 anos, atrás
apenas dos acidentes (Little, 1999). Atualmente, se destaca como a mais importante causa de óbito nos
países em desenvolvimento. Isto talvez se deva às atuais políticas de prevenção em outras doenças
infantis.
As taxas de mortalidade por câncer são as melhores medidas do progresso na luta contra o câncer
(Extramural Committee to Access Measures of Progress Against Cancer, 1990). No Brasil, em 2005, a
mortalidade por câncer em crianças e adolescentes com idade ente 1 e 19 anos correspondeu a 8% de
todos os óbitos, colocando-se, assim, como a segunda causa de morte nesta faixa etária. Considerando-se que a primeira causa de mortalidade refere-se às causas externas, como acidentes e violências,
entende-se que a mortalidade por câncer é, atualmente, a primeira causa de morte por doença nesta
população. Tal constatação implica relacionar esse perfil de óbitos à organização específica dos servi-
ços de saúde, particularmente da rede de atenção à saúde da criança e do adolescente, trazendo novos
desafios para a atenção oncológica e o Sistema Único de Saúde (SUS).
O câncer infanto-juvenil deve ser estudado separadamente do câncer do adulto por apresentar
diferenças nos locais primários, diferentes origens histológicas e diferentes comportamentos clínicos.
Tende a apresentar menores períodos de latência, costuma crescer rapidamente e torna-se bastante
invasivo, porém responde melhor à quimioterapia. A maioria dos tumores pediátricos apresenta achados histológicos que se assemelham a tecidos fetais nos diferentes estágios de desenvolvimento, sendo considerados embrionários. Essa semelhança a estruturas embrionárias gera grande diversidade
morfológica resultante das constantes transformações celulares, podendo haver um grau variado de
diferenciação celular. Por essa razão, as classificações utilizadas nos tumores pediátricos diferem das
utilizadas nos adultos, sendo a morfologia o principal aspecto considerado. A Agência Internacional de
Pesquisa em Câncer (IARC – International Agency for Research on Cancer) propôs uma classificação
descrita por Birch e Marsden (1987), modificada por Kramarova e Stiller (1996) e utilizada atualmente
pelos registros populacionais (ANEXO 1, Quadro 2). Em 2005, uma terceira edição foi publicada com
pequenas modificações com base nas mudanças da terceira edição da Classificação Internacional de
Doenças para Oncologia – CID-O3 (Steliarova-Foucher, 2005). Nessas classificações foram incluídos
os tumores de sistema nervoso central benigno. O INCA, através da Coordenação de Prevenção e
Vigilância (Conprev), da Coordenação de Pesquisa (CPq) e da Seção de Oncologia Pediátrica, após
autorização dos autores traduziram o artigo com a classificação atualizada (ANEXO 1, Quadro 3).
Para descrever a epidemiologia do câncer em uma população é necessário conhecer sua incidência,
mortalidade e sobrevida. A incidência é conhecida pelos registros de câncer de base populacional, que
através de um processo contínuo e sistemático de coleta de dados registra todos os casos novos de câncer
que ocorram em uma determinada população de uma área geográfica definida. A mortalidade é conhecida
utilizando-se as informações dos bancos de dados de registros vitais. A sobrevida pode ser estudada por
meio de registros populacionais, registros hospitalares e estudos clínicos controlados. Os estudos clínicos
consistem no “padrão ouro” para avaliar o tratamento e, junto aos registros hospitalares, representam somente uma parte da população selecionada, pois dependem de padrões de encaminhamento hospitalar e
critérios de elegibilidade dos pacientes. Os estudos baseados em registros populacionais são essenciais
para medir o impacto do tratamento e do sistema de saúde do país ou região.