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Durante séculos fomos um país escravista. O escravismo torna a oferta de trabalho no longo prazo muito elástica. Isso porque o escravismo torna o trabalho um fator de produção reprodutível, como é o caso, hoje, do capital físico.
No escravismo, se houver elevação da rentabilidade do trabalho, os produtores aumentam sua demanda por importação de mão de obra escrava. A maior importação eleva o número de escravos até que a rentabilidade volte a cair.
No longo prazo, a rentabilidade do escravo tem que ser igual ao custo de compra do escravo no porto da África adicionado ao custo do transporte. Ou seja, independentemente da melhora técnica no escravismo, a rentabilidade de um escravo está fixada.
Qualquer melhora técnica que eleva a rentabilidade de um escravo redunda na elevação das importações. É nesse sentido que no escravismo a oferta de trabalho é elástica: a rentabilidade do escravo no longo prazo está fixada independentemente da tecnologia.
Quando terminou o escravismo, tivemos um período em que a importação de mão de obra imigrante tornava a oferta de trabalho elástica. Qualquer pressão por elevação dos salários era compensada pela alta da importação de imigrantes.
Quando o mundo se fechou para a imigração a partir dos anos 30 do século 20, o Brasil iniciou o processo conhecido por transição demográfica. A forte queda da mortalidade a partir dos anos 30 a partir de valores muito elevados sem que houvesse simultaneamente queda da natalidade fez com que a oferta de trabalho crescesse muito rapidamente.
Esse fenômeno foi potencializado, pois a sociedade brasileira enfrentou a transição demográfica sem universalizar a educação fundamental. Como existe forte relação entre a escolaridade dos indivíduos e a decisão reprodutiva, nossa decisão de não universalizar a educação fundamental naquele momento de nossa dinâmica demográfica aumentou muito a oferta de trabalho desqualificado.
Dessa forma, apesar de a oferta de trabalhadores deixar de responder a fatores puramente econômicos desde os anos 30, a dinâmica demográfica associada à decisão da sociedade de não universalizar a educação fundamental criou um fôlego de várias décadas a um modelo de desenvolvimento com oferta muita elástica de trabalho.
Parece que os cinco séculos de oferta elástica de trabalho estão ficando para o passado. Para nós, o século 21 já pode ser chamado do século da restrição de mão de obra.
Não será a solução para todos os nossos problemas e, em particular, não resolverá o problema da baixa produtividade da mão de obra, em grande medida fruto da baixa qualidade de nosso sistema educacional. Mas certamente ajudará e com certeza contribuirá muito para reduzir a desigualdade.