O amor não pode existir sem o reconhecer-se em um outro, a liberdade não pode existir sem o reconhecimento recíproco. Essa reciprocidade na figura humana, por seu turno, tem de ser livre para poder retribuir a doação de Deus [...]. É por isso que Deus pode "determinar" os homens no sentido de que ao mesmo tempo os capacita e os obriga à liberdade. Ora, não é preciso acreditar nas premissas teológicas para entender que, se desaparecesse a diferença assumida no conceito de criação, e no lugar de Deus entrasse um sujeito qualquer, entraria em cena uma dependência de tipo inteiramente não causal. Seria esse o caso, por exemplo, se um homem quisesse interferir na combinação causal dos cromossomos paterno-maternos segundo suas próprias preferências, sem ao menos supor contrafaticamente um consenso com o outro concernido. (HABERMAS, J. Fé e Saber. São Paulo: Editor Unesp, 2013, p. 24-25.) Para Habermas, as intervenções pré-natais não terapêuticas na composição genética dos seres humanos têm consequências que podem minar a autocompreensão da ética da humanidade. Qual é a diferença conceitual entre uma criação atribuída a Deus e uma criação atribuída a um outro "sujeito qualquer"? Justifique sua resposta
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Respostas
A criação atribuída a Deus tem um sentido de finalidade e supõe a ideia de perfeição das coisas tal como são, já que aquilo que Deus (supondo a Sua existência) faz, supomos, são perfeitas.
Já a criação atribuída "a um sujeito qualquer" permite sempre a perfectibilidade (ou seja, a ideia de melhorias, sendo esta criação um trabalho "em andamento", que pode sempre melhorar), o que também traz a ideia de que as coisas não são perfeitas tais como são, e ainda que algumas coisas (ou pessoas) são "mais perfeitas" que outra.
Esta segunda ideia, parece claro, traz consigo riscos políticos de que os "mais perfeitos" imponham-se aos "menos perfeitos" ou, que por meio das ciências genéticas, exterminem de vez as "imperfeições", o que, historicamente, marcou o nazismo e se mostrou monstruoso.