• Matéria: Português
  • Autor: ghostprisegamerdark
  • Perguntado 6 anos atrás

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. [...] Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia. [...] Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. [...] Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada. [...] Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante. LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina. In: Felicidade clandestina. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. Na passagem transcrita, a apresentação das personagens por meio de uma voz em primeira pessoa, que se sustenta pelo fio de sua memória, revela a construção de uma narrativa com A. adjetivação excessiva da cena. B. caráter metalinguístico acentuado. C. expressividade poética forte. D. sequência temporal linear rígida. E. sobriedade na escolha do léxico.

Respostas

respondido por: angecossa
5

Resposta:

letra D

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