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Explicação:O ar, no vaivém da respiração, parece arranhar a garganta por dentro. Engolir até mesmo a própria saliva se torna um esforço extraordinário. Tudo isso, ainda por cima, costuma ser acompanhado de febre. Não há dúvida: a garganta está infecionada por algum vírus ou bactéria. Mas quem pensa que todo esse tormento está sendo causado diretamente pelo micróbio se engana. A dor na região das amígdalas, o inchaço que dificulta a deglutição, a vermelhidão no local e, por fim, a febre são sinais típicos da reação do organismo diante de algo estranho. Trata-se de uma inflamação, fenômeno disparado pelo próprio corpo, com o objetivo de chamar os glóbulos brancos do sangue para reparar eventuais perdas e danos. De certo ponto de vista, portanto, sofrer uma inflamação pode ser o primeiro passo para o organismo se curar de algum problema. Sem saber disso, no entanto, as pessoas só conseguem reclamar de dor, calor, rubor e inchaço, os quatro sintomas clássicos, que podem ser percebidos no local inflamado.
Esses sintomas são causados por substâncias conhecidas por mediadores inflamatórios. A dor na área inflamada é provocada basicamente por dois desses mediadores, disparados pelas células do corpo que foram danificadas: a chamada interleucina 1 e a prostaglandina irritam os nervos locais. Alguns cientistas presumem que a dor, então, funciona feito uma sirene de alarme de fato, algo errado está acontecendo naquele canto do organismo. Não bastasse isso, esse par de substâncias faz o maior escarcéu quando chega ao cérebro, conduzido pela circulação sangüínea. Ali, a prostaglandina e a interleucina 1 aumentam a sensação dolorosa e, ainda, desestabilizam o centro regulador térmico, no hipotálamo, de modo que a pessoa pode terminar com febre. Tal efeito não ocorre em ferimentos simples, como um leve arranhão, porque a quantidade de mediadores liberada pelo machucado costuma ser irrisória. Mas, geralmente, nas infecções ou em feridas maiores, a temperatura do corpo sobe acima de seus habituais 36 graus Celsius.
Não é só isso. As moléculas de prostaglandina, mais uma vez, junto com as de aminas outro grupo de mediadores inflamatórios produzidos pelo organismo , passam pelas veias e artérias da região lesada como se dirigissem tratores, desobstruindo ou abrindo novas estradas sangüíneas para a chegada rápida dos glóbulos brancos. Elas ampliam o calibre dos vasos nas proximidades da lesão, explica a imunologista Sônia Jancar, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. Com isso, a circulação se intensifica. Daí o rubor típico das inflamações. Os mediadores também separam ligeiramente as junções das células que formam as paredes dos vasos. Resultado: o plasma, a parte líquida do sangue, consegue escapar e termina se acumulando naquela área. O volume do líquido entre os tecidos é o que está por trás do edema ou inchaço.
Quem observou pela primeira vez os sintomas consagrados desse fenômeno biológico foi o escritor romano Cornelius Celus, ainda no primeiro século da era cristã. Em um cotidiano repleto de feridos de guerra e infecções disseminadas, ele descreveu a inflamação como mais uma doença. Contudo, inflamação não é doença, mas um processo de ajuste do organismo a uma lesão, define o imunologista Momtchilo Russo, também professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Essa constatação, aliás, foi feita em meados do século passado pelo médico alemão Julius Cohnhiem (1839-1884). O cientista concluiu que o próprio organismo era o único responsável pela inflamação, cujas conseqüências embora bastante incômodas são, no fundo, extremamente benéficas. Sem os mediadores inflamatórios seria impossível atrair os glóbulos brancos do sangue. Essas células, também conhecidas por leucócitos, são legítimos operários, capazes de limpar o terreno e reconstruir o tecido lesado. Eles varrem células mortas, remendam paredes celulares destruídas e, ainda, desapropriam eventuais microorganismos grileiros. Os mediadores inflamatórios não só convocam os leucócitos como determinam o seu número, afirma Russo. Porque quanto mais mediadores em circulação, mais glóbulos brancos são acionados.
Os mediadores, por sua vez, podem ser disparados de diversas formas. No caso da garganta inflamada, por exemplo, é possível que o próprio contato com a bactéria estranha tenha levado à sua produção. Ou, quem sabe, algumas substâncias tóxicas dessa bactéria acabaram ferindo ou acionando as células naquela área. E daí elas passam a liberar mediadores. Outros gatilhos são produtos químicos um ácido derramado sobre a pele, por exemplo. Também deve-se considerar fatores mecânicos, feito cortes e contusões. Sem contar os traumas, provocados por esforços repetidos e exagerados, que causam aquela dor infernal da tendinite nos jogadores de tênis, por exemplo.