Sócrates enfureceu os poderosos de Atenas e por isso foi condenado à morte.Sob quais acusações?
me ajudem pfvv
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Resposta:
Após gerar incômodos e burburinho entre pessoas influentes em Atenas, Sócrates recebeu uma acusação que partiu, principalmente, do poeta Meleto e do político e orador Anitos. “A acusação era grave: não reconhecer os deuses do Estado, introduzir novas divindades e corromper a juventude”[iii]. Isso significava que o pensador, já passado dos setenta anos de idade, seria julgado por um júri composto por outros cidadãos da pólis, e sua pena seria definida a partir do julgamento.
Os relatos do julgamento de Sócrates podem ser conferidos no diálogo de Platão Apologia de Sócrates e também em Defesa de Sócrates, do também discípulo do pensador, Xenofonte.
No ano 399 a.C., o tribunal dos heliastas, constituído por cidadãos provenientes de dez tribos que compunham a população de Atenas e escolhidos, por meio da tiragem de sorte, reuniu-se com 500 ou 501 membros. Difícil tarefa aguardava os juízes: julgar Sócrates, conhecida mas controvertida figura. Cidadão admirado e enaltecido por alguns – particularmente pelos jovens -, era, entretanto, criticado e combatido por outros, que nele viam uma ameaça para as tradições da polis e um elemento pernicioso à juventude.[iv]
O trecho citado acima reforça a tese de que Sócrates foi julgado e condenado por não se deixar levar pela ordem estabelecida, mas sempre questionar o conhecimento tido como correto.
No tribunal em que o filósofo foi julgado, a defesa ficava por conta do réu. Ao contrário do que muitos réus faziam na época, Sócrates não lançou apelos misericordiosos, utilizando sua posição social, sua família e seus filhos como meio de comover os membros do júri. Essa prática é vista pelo Direito, hoje, como uma tática falaciosa. Trata-se do argumentum ad misericordium, ou apelo para a misericórdia, que não apresenta uma estrutura lógica argumentativa, mas tenta vencer pela emoção.
Sócrates recusou tecer esse tipo de defesa por considerar que um apelo à misericórdia seria quase que uma aceitação da denúncia. Sócrates manteve-se firme em apresentar argumentos que contradissessem as falas de seus acusadores, porém essa atitude não foi suficiente para que o filósofo fosse absolvido.
Condenado pela maioria dos votos, cabia a Sócrates fixar a sua pena. Meleto queria a pena de morte. O exílio, que seria também um exílio político (vida que Sócrates não queria para ele), também foi cogitado. Amigos sugeriram para ele o pagamento de uma multa. Sócrates, porém, não aceitou nem o exílio e nem a multa, pois sua consciência consideraria esse ato uma espécie de aceitação da culpa, que ele julgava não carregar. Ficou definido, então, que sua pena seria a morte.
Após a condenação e a sentença, Sócrates proferiu as seguintes palavras:
– Cidadãos! Tanto aqueles que dentre vós induzistes as testemunhas a perjurarem, levantando falso testemunho contra mim, quanto os que vos deixastes subornar, deveis, de força, sentir-vos culpados de grande impiedade e injustiça. Mas eu, por que haveria de crer-me empequenecido se nada se comprovou do que me acoimam? Jamais ofereci sacrifícios a outras divindades [...]. Quanto aos jovens, seria corrompê-los, habituá-los à paciência e à frugalidade? Atos contra os quais a lei pronuncia a morte, como a profanação dos templos, o roubo com efração, a venda de homens livres, a traição à pátria, meus próprios acusadores não ousam dizer que os haja cometido. Surpreso pois, pergunto a mim mesmo qual o crime por que me condenais à morte. [...] Estou certo que tanto quanto o passado, me renderá o porvir o testemunho de que nunca fiz mal a ninguém, jamais tornei ninguém mais vicioso, mas servia os que comigo privavam ensinando-lhes sem retribuição tudo o que podia de bem.”[v]
Sócrates dizia que, ao conversar com as pessoas pelas ruas de Atenas, ele estava levando a sua missão, com responsabilidade, à frente – aquela missão que ele julgou ter ao conversar com o oráculo, de levar o conhecimento aos outros por ser o mais sábio homem da Grécia.
A virtude, julgava Sócrates, só poderia ser obtida mediante o conhecimento verdadeiro dos conceitos e das essências, e a sua missão era mostrar às pessoas que elas poderiam obter tal conhecimento, começando por um processo de autoanálise que findaria no questionamento e no conhecimento do mundo. Por perturbar a ordem vigente, esse foi o real motivo da condenação e da sentença de Sócrates.
Em 399 a.C., o filósofo recebeu o cálice contendo cicuta, o veneno utilizado para sua execução. Ele mesmo bebeu o conteúdo do cálice e, poucos minutos depois, morreu.