resumo do livro: O LIVREIRO DE CABUL
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Resenha: “O Livreiro de Cabul” critica a sociedade afegã
No livro de Asne Seierstad, as contradições do livreiro abrem espaço para uma reflexão aprofundada sobre o papel da mulher ou sua ausência na sociedade afegã. Confira resenha de Helena Sut.
Publicado 06/07/2006 16:08
Ler um bom livro é como um casamento selado entre a memória e a história desentranhada das palavras. Uma imagem inesquecível que permanece arraigada nos pensamentos como uma vivência a compor as circunstâncias.
Começo a ler “O Livreiro de Cabul” pelo título. Penso que o livreiro é quase como um vendedor de sonhos… Com a história e as ideologias resguardadas nas prateleiras, ele é o guardião da sabedoria, capaz de difundir no mundo um novo significado com o olhar poético ou crítico para os caminhos das civilizações… Mas logo no primeiro capítulo, percebo que o protagonista não é exatamente um livre pensador como se autodefine, é um homem preso às tradições e aos costumes que atravessa os regimes que devastaram o Afeganistão em guerras, ódios e intolerâncias, preservando o romance na ficção e conduzindo a sua família com a tirania estereotipada do mundo islâmico.
As contradições do livreiro abrem espaço para uma reflexão aprofundada sobre o papel da mulher ou sua ausência na sociedade afegã. Não há como não se abater a angústia da primeira mulher deposta pela idade, o sofrimento da segunda que, aos dezesseis anos, deve se submeter ao casamento com um velho, a escravidão da irmã mais nova, a ausência de horizontes da anciã, o pesar no nascimento das meninas… Enfim, o enclausurado mundo feminino, representado com a sombra silenciosa e desbotada da burca, prolonga-se com a ausência de atrativos num tempo fadado à repetição e ao abandono.