Qual a diferença entre as maneiras de expressão através do lixo observada na obra de cada artista?
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Histórico
Artistas viajantes são aqueles cuja produção encontra-se inexoravelmente ligada ao ato de viajar; os desenhos e pinturas que realizam, de franca vocação documental, acompanham deslocamentos no espaço, descobertas de paisagens e tipos humanos. De modo geral, esses artistas integram expedições artísticas e científicas que, nas Américas, desde sua descoberta, no século XVI, atravessam os territórios recém-conquistados, com a finalidade de registrar a flora, a fauna e seu povos. No caso do Brasil, vastas literatura e iconografia são produzidas desde a chegada dos portugueses no século XVI até o século XIX: os relatos e registros pictóricos descrevem as novas paisagens projetando imagens variadas da terra e do homem. Espécimes naturais desconhecidos, animais estranhos e homens "primitivos" (às vezes "bons selvagens", outras, "selvagens-canibais") compõem o imaginário europeu acerca do Novo Mundo, descrito ora como "inferno", ora como "paraíso terreal". A riqueza da produção dos artistas viajantes - seja pelo seu valor artístico, seja por conta de seus pontos de vista e suas descrições acerca das novas terras e gentes - desperta a atenção de analistas de diversas áreas: geógrafos, antropólogos, historiadores da arte e da cultura.
Os primeiros relatos sobre o Brasil, como o do viajante Hans Staden (1510-1576), vêm acompanhados de ilustrações (em geral, de autoria desconhecida) que traduzem as peripécias do viajante alemão, prisioneiro dos índios tupinambás, ameaçado de morte e canibalismo. Do mesmo modo, os textos do frei André Thevet (1502-1592) - As Singularidades da França Antártica, 1557- que acompanha a expedição de colonização da França Antártica, comandada por Villegagnon (1510-1571) em 1555 e 1556, e os do pastor calvinista Jean de Léry (1536-1613) - História de uma Viagem Feita à Terra do Brasil, 1578 - são complementados por ilustrações, inseparáveis dos relatos. Se, no início, as imagens vêm a reboque dos textos dos viajantes, com a edição gravada de Grands Voyages et Petits Voyages, coordenada pelo editor e gravador flamengo Theodore de Bry (1528-1598), e publicada em Antuérpia, entre 1590 e 1634, os registros visuais parecem adquirir relativa autonomia em relação aos textos.
Muitos são os artistas viajantes que passam pelo Brasil desde o período colonial; cabe destacar os mais importantes em relação às obras produzidas. O governo de Maurício de Nassau em Pernambuco, de 1636 a 1645, é responsável por fontes iconográficas fundamentais a respeito do Brasil holandês. Entre os artistas que documentam o país nesse contexto encontram-se os holandeses Albert Eckhout (ca.1610-ca.1666) e Frans Post (1612-1680), contratados para integrar a comitiva de Nassau. A pintura desses artistas, dizem os estudiosos, inaugura novos parâmetros de visualidade, menos comprometida com preocupações morais e religiosas, e mais afeita à observação naturalista do mundo, de acordo com os preceitos das escolas flamenga e holandesa. Paisagens são preferencialmente realizadas por Post, entre 1637 a 1644. De sua vasta obra documental é possível lembrar Engenho de Açúcar, s.d., Vista da Ilha de Itamaracá, 1637, e Mocambos, 1659. Eckhout trabalha com telas de grandes dimensões, além de fazer desenhos e esboços. Fauna, flora e tipos humanos são por ele registrados em: Homem Mestiço, s.d., Dança dos Tarairiu [Tapuias], s.d., Índia Tupi, 1641, Abacaxi, Melancia e Outras Frutas, s.d., entre outros. Ainda no período colonial, vale mencionar a "Viagem Filosófica", chefiada por Alexandre Rodrigues Ferreira, responsável por uma série de expedições ao interior do país, com fins botânicos, zoológicos, mineralógicos e etnográficos. Dessa expedição resultam desenhos e aquarelas de autoria de Joaquim José Codina (s.d.-1790) e José Joaquim Freire (1760-1847).