Question

Matimati, a terra da água

Quando cheguei à baía de Matimati já eu perdera contas às madrugadas. A vila se deitava no abraço da água, parecia que estava ali antes mesmo de haver mar. O que testemunhei naquela povoação foram coisas sem hábito neste mundo. Gentes imensas se concentravam na praia como se fossem destroços trazidos pelas ondas. A verdade era outra: tinham vindo do interior, das terras onde os matadores tinham proclamado seu reino. Consoante as pobres gentes fugiam também os bandidos vinham em seu rasto como hienas perseguindo agonizantes gazelas. E agora aqueles deslocados se campeavam por ali sem terra para produzirem a mínima comida. Deviam viver há vários dias, presenciadas as trouxas e fogueiras espalhadas em múltiplas desordens. Mal me viram desembarcar, vários homens me cercaram. Queriam saber quem eu era, de onde vinha. Me expliquei, sumário. Então eles me advertiram:​

— O melhor é você desaparecer-se daqui.​

Nem barrigasse o barco firme no chão. O que eu devia era regressar ao mar: assim me aconselhavam os gerais.​

COUTO, Mia. Terra sonâmbula. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 55.

Em Terra sonâmbula, o autor moçambicano Mia Couto faz uso inventivo dos processos de flexão da língua portuguesa, construindo significado de formas inovadoras. No excerto há o uso de “gentes imensas”, em que o uso do plural indica uma grande quantidade de pessoas ou pessoas de vários tipos diferentes. Outro exemplo desse tipo de recurso é:

A
“aqueles deslocados”, que pode se referir tanto às pobres gentes quanto aos bandidos.

B
“múltiplas desordens”, em que o plural serve para dar à desordem um sentido de maior tamanho e variedade.

C
“contas às madrugadas”, em que o plural serve para dar ênfase ao tempo que o personagem principal passou em alto-mar.

D
“os gerais”, que se refere aos homens que abordam o personagem principal, indicando um grupo de pessoas com características distintas entre si.​

Answer 1

B ! Múltiplas desordens se puder me dar um