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Resposta:
A TELEOLOGIA E OS PROCESSOS QUE A COMPÕEM, EXEMPLIFICADO
Explicação:
O uso da assim chamada "linguagem teleológica" mereceu um editorial intitulado "Mau uso do termo 'estratégia'" na revista BioScience, em 1984, do qual segue um trecho bastante significativo:
Alguns escritores parecem considerar o uso de terminologia teleológica do tipo 'esforço para atingir objetivos' como uma maneira de prender a atenção do leitor. Outros aparentemente usam-na de forma metafórica, como um método conveniente de examinar problemas. Entretanto, isto é perigoso porque leva a escrever e pensar descuidadamente e desorienta leitores cientificamente não preparados que freqüentemente tomam a metáfora como verdade. Um conhecido ... sugeriu-me o seguinte aviso: 'A atribuição de propósitos a plantas não se pretende literal, e se for assim considerada será perigosa para sua saúde mental'. Cientistas podem ter objetivos e podem desenvolver estratégias de pesquisa para atingi-los, mas plantas não podem, a menos que aceitemos que elas têm inteligência e que podem tomar decisões. Termos como 'estratégia' e 'tática' são filosoficamente questionáveis quando aplicados a plantas e animais inferiores, sendo melhor deixá-los para os políticos, os militares e os técnicos esportivos (Kramer, 1984).
Um elemento fundamental da imagem que a biologia contemporânea tem de si mesma é a rejeição da argumentação teleológica (Ruse, 2000). Com maior freqüência, trata-se da exclusão de dois tipos de explicações por não serem científicas: as que fazem referência a eventos futuros como causas de eventos presentes, e as que sugerem algo como intencionalidade orientando processos e fenômenos.
A argumentação de Kramer é deste segundo tipo, e pressupõe que apenas a consciência possa suportar processos teleológicos. É uma argumentação bastante representativa das discussões explícitas do problema da linguagem teleológica entre os biólogos.
O fato de um editorial discutir o assunto evidencia o quanto o uso pouco formal de linguagem finalista é intenso entre biólogos, bem como o desconforto que esta linguagem causa em situações em que é discutida com maior rigor metodológico. A posição que defende a exclusão total do finalismo da linguagem científica em biologia está longe de ser unânime entre filósofos e historiadores da ciência mas, em contraste com seu uso intenso, tem grande força na comunidade científica. Na discussão formal do assunto, os biólogos tendem a ver o finalismo como elemento instrumental ou até mesmo como linguagem informal e econômica. Além das objeções já citadas, muitas outras são levantadas contra a teleologia, sobretudo envolvendo o abominável espectro pré-científico de Aristóteles. A crítica à teleologia enquanto idéia ou linguagem metafórica contém más interpretações de como ela se encontra em seu propositor mais célebre (Spassov, 1998). As objeções à subsistência do finalismo do filósofo são variadas. A teleologia de Aristóteles seria antropocêntrica ou teologizante por se basear na analogia entre processos naturais e o trabalho de um artesão racional, chegando a estender a analogia a grandes objetivos cósmicos da natureza (cf. Maund, 2000). A idéia de espécies fixas, imutáveis, seria totalmente incompatível com a biologia moderna. Finalmente, as causas finais de Aristóteles estariam em contradição com o espírito mecanicista da ciência contemporânea. Obviamente, quanto às espécies fixas, não há que se questionar os críticos, mas os que vêem algum espaço para a teleologia hoje tampouco gostariam de reviver Aristóteles in totum.
Confusões entre a teleologia de Aristóteles e as concepções teológicas medievais