Qual é o sentimento vivenciado pela filha mais velha do texto Olhos D'água
johnnydpg2019:
o que está fazendo aqui Pedro
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cadê o texto?????????
se assentava em seu trono, um pequeno banquinho de madeira. Felizes, colhíamos
flores cultivadas em um pequeno pedaço de terra que circundava o nosso barraco. As
flores eram depois solenemente distribuídas por seus cabelos, braços e colo. E diante
dela fazíamos reverências à Senhora. Postávamos deitadas no chão e batíamos cabeça
para a Rainha. Nós, princesas, em volta dela, cantávamos, dançávamos, sorríamos. A
mãe só ria de uma maneira triste e com um sorriso molhado... Mas de que cor
olhos de minha mãe? Eu sabia, desde aquela época, que a mãe inventava esse e outros
jogos para distrair a nossa fome. E a nossa fome se distraía.
Às vezes, no final da tarde, antes que a noite tomasse conta do tempo, ela se sentava
na soleira da porta e, juntas, ficávamos contemplando as artes das nuvens no céu. Umas
viravam carneirinhos; outras, cachorrinhos; algumas, gigantes adormecidos, e havia
aquelas que eram só nuvens, algodão doce.
o céu, colhia aquela nuvem, repartia em pedacinhos e enfiava rápido na boca de cada
uma de nós. Tudo tinha de ser muito rápido, antes que a nuvem derretesse e com ela os
nossos sonhos se esvaecessem também. Mas de que cor eram os olhos de minha mãe?
Lembro-me ainda do temor de minha mãe nos dias de fortes chuvas. Em cima da
cama, agarrada a nós, ela nos protegia com seu abraço. E com os olhos alagados de
cama, agarrada a nós, ela nos protegia com seu abraço. E com os olhos alagados de
prantos balbuciava rezas a Santa Bárbara, temendo que o nosso frágil barraco desabasse
sobre nós. E eu não sei se o lamento-pranto de minha mãe, se o barulho da chuva... Sei
que tudo me causava a sensação de que a nossa casa balançava ao vento. Nesses
momentos os olhos de minha mãe se confundiam com os olhos da natureza.
chorava! Chorava, chovia! Então, por que eu não conseguia lembrar a cor dos olhos
dela?
E naquela noite a pergunta continuava me atormentando. Havia anos que eu estava
fora de minha cidade natal. Saíra de minha casa em busca de melhor condição de vida
para mim e para minha família: ela e minhas irmãs tinham ficado para trás. Mas eu
nunca esquecera a minha mãe. Reconhecia a importância dela na minha vida,
dela, mas de minhas tias e de todas as mulheres de minha família. E também, já naquela
época, eu entoava cantos de louvor a todas nossas ancestrais, que desde a África
vinham arando a terra da vida com as suas próprias mãos, palavras e sangue. Não, eu
não esqueço essas Senhoras, nossas Yabás, donas de tantas sabedorias. Mas de que cor
eram os olhos de minha mãe?
E foi então que, tomada pelo desespero por não me lembrar de que cor seriam os
cidade em que nasci. Eu precisava buscar o rosto de minha mãe, fixar o meu olhar no
dela, para nunca mais esquecer a cor de seus olhos.
Assim fiz. Voltei, aflita, mas satisfeita. Vivia a sensação de estar cumprindo um ritual,
em que a oferenda aos Orixás deveria ser descoberta da cor dos olhos de minha mãe.
extasiada os olhos de minha mãe, sabem o que vi? Sabem o que vi?
Vi só lágrimas e lágrimas. Entretanto, ela sorria feliz. Mas eram tantas lágrimas, que
eu me perguntei se minha mãe tinha olhos ou rios caudalosos sobre a face. E só então
compreendi. Minha mãe trazia, serenamente em si, águas correntezas. Por isso, prantos
e prantos a enfeitar o seu rosto. A cor dos olhos de minha mãe era cor de olhos d’água.
a vida apenas pela superfície. Sim, águas de Mamãe Oxum.
Abracei a mãe, encostei meu rosto no dela e pedi proteção. Senti as lágrimas delas se
misturarem às minhas.
Hoje, quando já alcancei a cor dos olhos de minha mãe, tento descobrir a cor dos
olhos de minha filha. Faço a brincadeira em que os olhos de uma se tornam o espelho
para os olhos da outra. E um dia desses me surpreendi com um gesto de minha menina.
contemplando intensamente. E, enquanto jogava o olhar dela no meu, perguntou
baixinho, mas tão baixinho, como se fosse uma pergunta para ela mesma, ou como
estivesse buscando e encontrando a revelação de um mistério ou de um grande
segredo. Eu escutei quando, sussurrando, minha filha falou:
— Mãe, qual é a cor tão úmida de seus olhos?
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