Respostas
Moore (2014) documenta o desenvolvimento histórico de Nheengatu, que é uma língua de contato que se estende por quinhentos anos, desde que os portugueses desembarcaram no Brasil em 1500. Ao chegarem ao Brasil, colonizadores portugueses encontraram diversas línguas ou dialetos aparentados da família Tupi-Guarani usados ao longo da costa do Brasil. Desconsideradas as diferenças dialetais, praticamente havia uma "língua brasílica" da qual os colonizadores podiam servir-se como lingua francapara se comunicarem com os indígenas ao longo dum vasto território. Após contato europeu, houve muito intercâmbio cultural e comercial, e homens europeus procuravam mulheres locais e iniciaram famílias, produzindo filhos (ou mestiços) que falariam sua língua nativa, que é o precursor agora extinto de Nheengatu chamado Tupinambá (também conhecido como Brasílico ou Tupi Costal). Os europeus também aprenderam esse idioma para agir como intermediário, e Tupinambá passou a ser usado na colônia depois que os portugueses se estabeleceram permanentemente nas novas terras.[6] Em meados do século XVI, os jesuítas chegaram à Bahia, Brasil. Esses missionários eram aprendizes ativos das línguas nativas, produzindo manuais de idiomas. Obras linguísticas mais conhecidas do século XVI e início do século XVII são a Arte da Gramática da Língua mais usada na costa do Brasil pelo Padre José de Anchieta (1595) e a Arte da Língua Brasílica por Luis Figueira (1621).
A Amazônia foi estabelecida como a segunda colônia no início do século XVII. Na foz do Amazonas, o estado do Maranhão era linguisticamente diverso e enfrentava um afluxo de imigrantes do Brasil que falavam Tupinambá: “Índios, brancos, negros, pardos e mestiços deixando suas casas no Brasil para povoar o norte do país colônia trouxe a Brasílica com eles”. O número de falantes de outras línguas superava imensamente os colonos portugueses nesta segunda colônia. Com esse afluxo de imigrantes do Brasil, Tupinambá era a língua para a qual as pessoas iam na colônia. (Rodrigues 1996a e Freire 2004) A língua falada pelos índios, tupi antigo, que foi denominado "língua brasílica", foi absorvida pela sociedade colonial, passando a ser usada não apenas por índios e jesuítas, mas também por muitos colonos de sangue português e por escravos africanos. A então chamada "língua geral" foi levada junto aos portugueses na conquista do território brasileiro, sendo imposta a povos indígenas que falavam outras línguas.
A Língua Geral evoluiu em dois ramos, a língua geral setentrional (amazônica) e a língua geral meridional (paulista), a qual em seu auge chegou a ser a língua dominante do vasto território brasileiro. Um manuscrito anônimo do século XVIII é emblematicamente intitulado "Diccionario da lingua geral do Brasil, que se falla em todas as villas, lugares, e aldeas deste vastissimo Estado, escrito na cidade do Pará, anno de 1771".
A Língua Geral foi estabelecida como língua oficial de 1689-1727, após a qual o português foi promovido, mas sem sucesso. Em meados do século XVIII, a Língua Geral Amazônica (distinta da Língua Geral Paulista, variedade semelhante usada mais ao sul) foi usada em toda a colônia. Nesse ponto, Tupinambá permaneceu intacto, mas como uma "linguagem litúrgica". As línguas usadas na vida cotidiana evoluíram drasticamente ao longo do século devido ao contato com a língua, com Tupinambá como a "língua dos rituais, e Língua Geral Amazônica, a linguagem da comunicação popular e, portanto, da instrução religiosa”.
Nheengatu continuou a evoluir no século XX, quando se expandiu na região do Alto Rio Negro. Houve contato com outros idiomas como Marawá, Baníua, Warekana, Tucano e Dâw (Cabalzar; Ricardo 2006 em Cruz 2015). Devido a eventos econômicos e políticos, como o ciclo da borracha na Amazônia, a presença portuguesa voltou a ser sentida devido a esses eventos, forçando as populações indígenas a se mudarem ou serem subjulgados a trabalho forçado. Sua língua, naturalmente, foi novamente influenciada com o aumento da presença de falantes de português.
A língua entrou em declínio no fim do século XVIII, com o aumento da imigração portuguesa e seu banimento em 1758 por Marquês de Pombal, por ser associada aos jesuítas, que haviam sido expulsos dos territórios dominados por Portugal. Isto extinguiu a língua geral paulista gradualmente. O declínio da língua geral na Amazônia acentuou-se com a chegada de migrantes nordestinos lusófonos após a Grande Seca de 1877.
Até o século XIX, foi veículo da catequese e da ação social e política luso-brasileira na Amazônia, sendo mais falada que o português no Amazonas e no Pará até 1877.