Como a atual pandemia pode impactar no desenvolvimento dos BRICS no contexto da geopolítica mundial?
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O que sabemos até agora é que em todos os lugares em que aparece, o vírus SARS-CoV-2 se embrenha e viaja por todas as brechas conhecidas e ocultas da sociedade, que as respostas de governos são moldadas pela política já existente, mas com frequência assumem uma forma mais extrema, e que as condições de medo e isolamento fazem com que mobilizações democráticas fiquem extremamente difíceis. Se por um lado esses pontos são verdadeiros em todos os países, há também alguma lógica em observar os cinco membros do BRICS juntos.
Há já algum tempo, discussões sobre mudanças políticas e econômicas globais têm se centrado no papel desempenhado pelos assim chamados poderes emergentes no sistema mundial — os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em particular. Para alguns, o surgimento dos BRICS anunciou a chegada de um mundo pós-ocidental, no qual a hegemonia euro-americana no sistema mundial seria algo do passado. Para outros, a emergência desses poderes estava impulsionando um novo modelo de desenvolvimento, que se afasta das ortodoxias neoliberais, trazendo de volta o bem-estar público e intervenções ativas do Estado na economia. “Desde os tempos do Movimento dos Nãos Alinhados e sua demanda por uma Nova Ordem Econômica Internacional, nos anos 1970”, argumentou Radhika Desai no contexto da reunião dos BRICS em Durban, 2013, “o planeta nunca mais havia testemunhado um desafio tão coordenado à supremacia ocidental no mundo econômico, vindo de países em desenvolvimento”.
No entanto, os BRICS não são nem de longe um bloco homogêneo. Ao contrário, o agrupamento está indiscutivelmente desgastado por divergências em trajetórias políticas e econômicas. Além disso, a narrativa de um “Sul global em ascensão” choca-se com a realidade de como os processos de crescimento que alimentaram o levante dos BRICS estão repletos de falhas econômicas e políticas. Primeiro, a emergência das potências ascendentes foi contemporânea do surgimento de uma nova geografia da pobreza global: agora, mais de 70% dos pobres vivem em países de renda média. E a despeito de taxas de crescimento impressionantes, os países do BRICS abrigam mais de 50% da população empobrecida do mundo