• Matéria: Português
  • Autor: itachiutichiha87
  • Perguntado 5 anos atrás

Leia o texto para responder a questão.

Serenata de Schubert
Zélia Gattai
Numa quarta-feira, depois do almoço, como acontecia todas as quartas-feiras, mamãe preparou-se para visitar a irmã. Eram necessárias duas conduções de nossa casa à casa de tia Margarida, no Brás. Uma hora de viagem, daí para mais. Mamãe nunca saía sozinha. Jamais desacompanhada em seus passeios, aliás, como nenhuma senhora que se prezasse, naquela época. No caso de mamãe, as guardiãs de sua reputação éramos nós três, suas filhas, escaladas uma de cada vez. Naquele dia, Vera a acompanhou. Da próxima vez seria eu.
O itinerário escolhido por dona Angelina era sempre o mesmo: tomava o bonde na esquina da Avenida Paulista com Consolação, saltava na Praça do Patriarca. [...] Atravessava a Rua Direita inteirinha, a pé, vendo vitrinas. Essa, creio, era a parte do passeio mais demorada, a de que mais gostava. Na Rua Direita estavam instaladas as grandes lojas da cidade. Começava pelo “Mappin Store”, na Praça do Patriarca, depois vinha a “Casa Alemã”, depois a “Casa Lebre” e depois de muitas outras lojas bonitas chegava a nossa preferida: a “Loja Ceylão”. Ah! A “Loja Ceylão”! Sortida de flores e frutos artificiais, lanternas de papel colorido, cestos de todos os formatos, uma beleza! As vitrinas das lojas eram renovadas todas as semanas e mamãe parava diante de cada uma, espiando as novidades, embora jamais comprasse nada. O dinheiro de que dispunha não dava para abusos. [...]
Mas, como dizia, naquele começo de tarde lá se foram as duas, mamãe com seu chapéu de uvas, Vera com suas pernas de saracura.
Já se aproximavam da “Loja Ceylão” quando, ao passarem por uma casa de discos numa esquina da Rua Direita, mamãe estancou. Da loja vinha o som de suave melodia. Para ela música nova; nunca a ouvira antes. Lindíssima! Ali, na porta da casa, ficou plantada até seus últimos acordes.
A vontade de dona Angelina era de entrar e comprar o disco imediatamente, mas tinha saído desprevenida, como sempre. Certamente o dinheiro que levava não daria para as passagens do bonde e a compra urgente. Nem se animou a entrar, perguntar seu preço, saber o nome da música. [...] Naquela noite, antes de deitar-se, mamãe declarou:
— Amanhã vou à cidade comprar o disco. Zélia, trate de acordar cedo que você vai comigo.
Fui dormir excitada com a perspectiva de uma saída extra. [...]
Na loja de música, em vários gramofones* rodavam discos diferentes ao mesmo tempo. Além dos vendedores havia alguns clientes.
Mamãe dirigiu-se a um rapazinho que atendia:
— Moço — começou à meia voz, timidamente —, eu queria um disco que ouvi aqui, ontem à tarde, não sei o nome...
O rapaz não a deixou terminar, não havia entendido nada, não percebia o que desejava a freguesa.
— O que foi que a senhora disse? O que é que a senhora quer? Por favor fale mais alto, não entendi nada.
Foi preciso que mamãe repetisse tudo de novo, quase aos gritos, para ser ouvida em meio àquela confusão de músicas embaralhadas.
O jovem acabou compreendendo o que a freguesa lhe dizia e, irreverente, argumentou:
— Como posso adivinhar qual o disco que a senhora deseja, madame? Aqui tocamos centenas de músicas por dia...
— Era uma melodia muito nostálgica — esclareceu a freguesa, falando timidamente, porém alto, o que lhe devia custar grande esforço.
Outro vendedor aproximou-se, alguns clientes da loja foram se chegando, curiosos.
— Olhe, moço — decidiu mamãe —, se o senhor parar um pouco essas músicas, eu posso cantarolar um pedacinho dela, acho que gravei na cabeça.
Fez-se silêncio. Nesse momento, a roda de curiosos que a cercavam era grande. Ela começou:
— Lári lalá..., lari Ia lalá...
A um só tempo, vários exclamaram: “Serenata de Schubert!” Eu assistia àquela cena pensando que mamãe havia sido muito ladina* não levando Vera nem Wanda para a compra. Ela nunca poderia ter se espalhado do jeito que se espalhou, tendo a seu lado uma das duas fiscais a controlá-la, a criticá-la. Eu achei muita graça daquele movimento em torno dela, envaidecida de “minha mãe: vedete*” rodeada de público, cantando em plena loja da Rua Direita. [...]
GATTAI, Zélia. Anarquistas, graças a Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 140.

*gramofone: toca-discos
*ladina: esperta
*vedete: atriz principal de teatro ou cinema


O assunto principal desse texto é

Escolha uma das opções abaixo:

A. a casa onde morava a tia Margarida, irmã da mãe da narradora, situada no Brás.

B. a falta de dinheiro da família, o que impedia a mãe de comprar nas lojas da Rua Direita.

C. o costume das irmãs da narradora, Vera e Wanda, de sempre fiscalizar e criticar a mãe.

D. o entusiasmo da mãe da narradora com uma música que ela ouviu em uma loja de discos.

Respostas

respondido por: claire88
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Resposta: Alternativa D

Explicação: Podemos já descartar as duas primeiras opções, pois o conteúdo da letra A não é o foco do texto, e o da B não está correto: a mãe possui o dinheiro, mas não pôde comprar no momento pois saiu com o dinheiro contado, não esperava que iria se encantar pela música. Sendo assim restam C e D, e aí descartamos a C também porque, assim como a A, não apresenta o tópico de mais importância no texto, que é a admiração da mãe por conta da música. Então a certa é a D.


itachiutichiha87: obrigado
itachiutichiha87: voce pode responde as outras por favor
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