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Quando digo sem relógios, é mesmo sem nenhum tipo de referência temporal: nem sequer saber em que posição está o sol. Imagine que vai dormir e quando acorda não tem um relógio nem outra forma de saber quanto tempo dormiu.
Hoje contamos a história de Michel Siffre, alguém que viveu assim seis meses. É ver!
Siffre mostrou que na ausência de qualquer referência temporal, relógios ou posição do sol, o ciclo de oscilação hormonal e de temperatura no nosso corpo se mantém, o que prova que temos um relógio interno que marca o ritmo dos dias. Na verdade, este relógio interno não está bem ‘afinado’ para as 24 horas. A experiência mostrou que o nosso relógio interno tem uma tendência para manter um ritmo de ‘dias’ um pouco maiores, entre as 24 e as 25 horas. Quando viajamos para outro fuso horário, o nosso ciclo circadiano fica completamente ‘desacertado’ com a hora local, temos de esperar alguns dias até que ele sincronize de novo com o ciclo dia e noite. Como o nosso ciclo natural é um pouco mais longo que um dia de 24 horas, na verdade este processo de sincronização está permanentemente a acontecer: todos os dias o nosso ciclo circadiano tem de ser puxado um pouquinho para trás para se manter certo.
Durante alguns anos estudei estes processos de sincronização do ponto de vista matemático, o que me levou a interessar-me pelo ciclo circadiano. Curiosamente este processo não está totalmente entendido, nem do ponto de vista matemático nem do ponto de vista fisiológico. Não é claro de que forma é que o processo de sincronização se dá: como é que a informação sobre a hora real chega ao nosso relógio interno. Um exemplo são os cegos, não se sabe porquê, mas alguns cegos conseguem sincronizar o seu ciclo circadiano com o ciclo dia e noite e outros não. Quem não consegue manter o seu ciclo circadiano sincronizado com o ciclo dia e noite, têm grande problemas de distúrbios de sono, como o nosso relógio interno tem uma tendência para ter dias um pouco mais longos, ao longo do tempo o seu ciclo circadiano vai desfasando do ciclo solar. Há semanas em que até não está muito dessincronizado, nesses períodos é fácil dormir durante a noite, mas há outros períodos em que está tudo ao contrário, é como se vivesse em jet lag permanente. Embora este problema também possa ocorrer em pessoas com visão aparentemente normal, é claramente muito mais comum entre os cegos. Curiosamente, há uma larga percentagem de cegos que - embora não tenham qualquer perceção consciente da luz - conseguem sincronizar o ciclo circadiano. Um outro exemplo de dessincronização do ciclo circadiano acontece nos bebés com poucas semanas, aquilo a que popularmente se chama ‘estar com as noites e os dias trocados’; felizmente isso normalmente resolve-se nos primeiros meses de vida.
Depois do trigésimo sétimo dia de enclausura, Siffre começou a dessincronizar o ciclo de sono com o ciclo circadiano. Embora tenhamos tendência a ir para a cama sempre à mesma hora, a verdade é que - pelo menos se estivermos cansados -podemos ir dormir a outras horas, Siffre entrou num ritmo aparentemente caótico de períodos de sono. Só anos mais tarde é que se conseguiu entender estes dados, afinal não eram assim tão caóticos. A hora a que adormecia e a duração do sono, estava de alguma forma relacionada com a fase do seu ciclo circadiano, era mais provável adormecer em certas fases do ciclo. Ele não sabia que horas eram e ia dormir quando lhe apetecia, contudo, havia duas fases do seu ciclo circadiano em que era pouco provável adormecer: entre as 9 e as 12 horas da manhã e entre as 16 e as 23 horas. Estes estudos vieram comprovar que a sesta é algo natural no nosso corpo: era relativamente provável ele adormecer durante o período de sesta. Por outro lado, o número de horas em que ficava a dormir também estava ligado ao ciclo circadiano, se por exemplo ficava entretido e ia dormir por exemplo lá para as 4-5 horas da manhã no seu ciclo circadiano então era mais provável acordar passado poucas horas, mas também podia acontecer ficar acordado uma noite inteira e depois adormecer já cansado no seu período da sesta e dormir a tarde toda e a noite seguinte, correspondente ao seu ciclo...