Respostas
A arte e a humanização do homem: afinal de contas, para que serve a arte?
Esta questão tem ocupado por décadas os educadores da área de Educação Artística (particularmente a partir dos anos 80, no processo de revisão dos currículos escolares), com o objetivo de justificar a importância desta disciplina na escola básica.
Contudo, estes esforços não têm convencido a maioria dos professores e alunos, a começar pela prática pedagógica que se desenvolve, mantendo a impressão de inutilidade, de perda de tempo, de "coisa supérflua". Que importância tem ficar desenhando, fazendo cartões para o dia das mães, ou bandeirinhas para as festas de São João? Devia é ter mais tempo para a leitura, a escrita, o cálculo... Esta posição é assumida até mesmo pelos dirigentes, quando por exemplo, na ocasião da revisão do Núcleo Comum dos Currículos, em 1986, Secretários de Educação de todo o país propuseram a exclusão da Educação Artística.
Esta situação nos remete novamente à questão colocada no início do texto e que parece não ter sido respondida satisfatoriamente. Afinal de contas, para que serve a arte? Para que serve a música, o teatro, a dança, as artes plásticas, o cinema? A resposta mais comum diz respeito ao prazer, ao lazer, ao deleite do espírito, e tem reforçado a idéia de "coisa supérflua", de luxo, de ocupação ociosa para quem tem tempo (e dinheiro) para freqüentar teatros, cinemas e galerias. Para a grande maioria, que não consegue nem ao menos o seu sustento básico, não é importante.
Só reconhecem a importância da arte os artistas e educadores da área, que enfatizam seu papel no desenvolvimento da famigerada criatividade, da expressão das emoções, das habilidades sensíveis e que chegam até ao limite de propor a arte como fundamento para a aprendizagem de todo e qualquer conhecimento.
De certa forma, esta defesa acaba reforçando a idéia do supérfluo. Que importância tem conhecer Mozart ou Leonardo da Vinci, ser sensível e criativo, para o mundo do trabalho, na época dos computadores e satélites? Ou, que importância tem a música erudita, o balé clássico ou a pintura cubista, para uma multidão de analfabetos? Cultura inútil!
No entanto, a arte sobrevive - inutilmente ou não, todo mundo ouve música, dança, assiste a filmes e se preocupa em pendurar nem que seja a gravura de um calendário na parede (não estamos aqui afirmando que tudo é arte ou nos propondo a um julgamento de valor estético, mas destacando a evidência da necessidade de contato das pessoas com objetos ou atividades cujo sentido é predominantemente artístico).
Do Renascimento até hoje, artistas são consagrados e se transformam em ídolos. Os meios de comunicação de massa reservam um espaço significativo para as manifestações artísticas. Por quê? Para quê?
Por mais que se imponha como atividade dispensável, a produção artística não se justifica somente como luxo e decoração para as elites. Prova disso são o rádio e a televisão que, através da veiculação de música, novelas e filmes, ocupam a maior parte das horas de lazer da classe trabalhadora.
Então, para que serve a arte? Se todas as respostas ainda não convenceram, a prática teima em contradizer o mito da inutilidade. O problema que se coloca então é o de encontrar a resposta certa. É preciso fazer uma limpeza no terreno da arte, no processo histórico de sua construção, na obra enquanto mercadoria, no consumo privado, nos desvios provocados pelo modo de produção de nossa sociedade e pelos valores (ou anti-valores) que produziu e produz.
Se o valor da obra de arte se coloca por um lado nos domínios do prazer e da beleza, por outro não escapa da mercantilização. A possibilidade de acesso ao prazer e à beleza está presa à condição de pagar pelo seu preço. Isto significa que, do mesmo modo que o consumo de produtos que atendem às necessidades básicas de sobrevivência (como alimentação, saúde, habitação...), os produtos da arte se apresentam como mercadorias.
Assim, não há possibilidade de escolha entre "o pão de cada dia" e o mais belo espetáculo artístico para a maioria daqueles que, tendo garantida sua subsistência, têm recursos "sobrando" para investir no deleite do espírito
Espero ter ajudado vc nos estudos ^_^♡