a) Em relação ao crescimento do Brasil, o que foi dito durante muito tempo? O que estudos recentes
comprovam?
Respostas
Resposta:
Nos últimos 40 anos a economia brasileira passou por significativas transformações na sua estrutura produtiva. A indústria se consolidou como o setor mais dinâmico, e a pauta de exportação se diversificou. No entanto, nos anos recentes, a trajetória de crescimento do Brasil está relativamente inferior a dos demais países da América Latina com estrutura produtiva semelhante e também inferior à taxa de crescimento mundial, sinalizando uma perda de dinamismo ante as economias concorrentes.
Este texto se apoia nas propostas de Kaldor, desenvolvida nos anos 1970, para explicar o relativo atraso da economia inglesa dianste dos demais países desenvolvidos, como principal referência teórica para interpretrar a razão pela qual a economia brasileira cresceu relativamente menos que suas congêneres nos recentes. Uma das conclusões relevantes a que Kaldor chegou foi a de que as exportações, em particular de produtos industrializados, desempenham papel crucial no dinamismo das economias maduras no longo prazo. A importância dada às exportações explica-se não só pelo fato de ser um componente da demanda cujo crescimento induz o crescimento do produto, mas também por representar fonte de divisas e, portanto, de capacidade de importação aliviando a restrição externa. Na visão de Kaldor, o crescimento econômico, liderado pela demanda agregada, pode assim ser restringido por desequilíbrios no Balanço de Pagamentos, gerados ou pelo aumento relativo das importações vis-à-vis as exportações ou pela perda de competitividade das exportações, provocado pelo relativo atraso tecnológico do setor industrial. Nesse sentido, encorajar uma aceleração na taxa de crescimento das exportações pode permitir taxas de crescimento econômico maiores caso um déficit externo não possa ser coberto por fluxo de capitais. O aumento das exportações, neste sentido, deve ser direcionado para os setores onde a demanda mundial é crescente. Essa linha de raciocínio foi formaliza em modelos de crescimento, com ênfase em movimentos da demanda agregada, conhecidos na literatura como "export led growth", onde o equilíbrio no Balanço de Pagamentos é a restrição ao crescimento induzido pelas exportações. O principal argumento de Kaldor que resgatamos neste trabalho é o de que para a economia brasileira crescer a taxas mais elevadas em um contexto de abertura econômica é necessário reduzir a restrição externa, o que só é possível com a transformação na estrutura industrial no sentido de elevar a competitividade das exportações.
Vale observar que a economia brasileira não se desenvolveu "voltada para fora", e em grande medida, suas fases de crescimento, dado se tratar de uma economia dependente de capital externo, foram condicionadas pelos contextos internacionais de maior ou menor liquidez (Britto, 2007). Na ausência de um setor exportador dinâmico, o déficit externo era coberto com fluxos de capitais autônomos. Entretanto, o aprofundamento do processo de industrialização buscou deliberadamente, até fins dos anos 1970, reduzir as importações de bens industrializados passando fabricá-los no país. Nesse sentido, a interação de condicionantes externos com políticas econômicas internas visando superar restrições de Balanço de Pagamentos provocaram mudanças na estrutura produtiva. Em que medida essas mudanças colocaram a economia em uma trajetória de crescimento menos volátil e mais estável? A questão importante que orienta esse texto é investigar, ao longo do processo de desenvolvimento econômico, as mudanças ocorridas na estrutura produtiva e como essas mudanças alimentaram novas situações que, no conjunto, conformaram a trajetória de crescimento nos últimos 40 anos.
Esse texto está dividido em mais três seções: a segunda seção apresenta uma breve resenha da abordagem Kaldor-Thirlwall, a terceira seção discute o desenvolvimento da economia brasileira à luz das leis de Kaldor no período 1967-2006, e por fim a quarta seção apresenta nossas considerações finais.
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