Respostas
Explicação:
Há no interior das ciências naturais a pretensa resistência em considerar uma verdade que lhe parece peculiar, mas que, por sua necessidade de prova empírica, muitas vezes prefere ignorar: a de que teorias científicas, quase sempre travestidas de uma suposta objetividade, podem trazer no seu interior uma robusta metafísica resistente aos dados experimentais. Isso acontece, por exemplo, com a identificação contemporânea da realidade do átomo e de sua estrutura. Até que ponto a indicação de elementos atômicos (ou subatômicos) aponta para a realidade material? O constitui, de fato, substância física ou entidade metafísica em tais elementos? Qual elemento serve para o cumprimento de uma necessidade lógica dedutiva de funcionamento do sistema e qual, de fato, existe? A inexistência do “elemento x” não colapsaria todo o sistema? A existência do “elemento y” não pressuporia a inteligibilidade do sistema? Questões próprias do materialismo, que têm sido fruto de discussões históricas a respeito da realidade do átomo não foram, necessariamente, fruto da preocupação antiga com a sua suposta materialidade. Mais do que uma preocupação com a necessidade de uma prova objetiva, material, estavam os gregos, desde Leucipo, preocupados com a função lógica desempenhada pelo átomo no interior de seus sistemas. Por isso, desencadearam uma série de explicações, cuja coerência lógica era a exigência de fundo, onde o átomo desempenhou o papel não de coadjuvante, mas de protagonista de argumentos nos quais erigiu-se como fundamento e base.
Diante do exposto, a intenção do presente texto, muito mais do que o da defesa de qualquer ponto de vista, ou mesmo de qualquer tese, visa elucidar algumas questões que serão de capital importância no entendimento da realidade do átomo na Antiguidade grega. Trata-se, assim, de um texto propedêutico e elucidativo para os não-iniciados em Ciência. Para os qualificados, resta um breve passeio pelos caminhos da História Física, recapitulando temas supostamente dissecados, elucidados e resolvidos pela comunidade dos cientistas, mas cuja atualidade não se perdeu. A despeito dos que não têm tal profundidade no tratamento do desenvolvimento da História da Ciência, ou dos que não conseguem vislumbrar que em seu interior houve (e há) lugar para o desenvolvimento da metafísica, as discussões que se seguem tornar-se-ão substanciais, visto que é da produção grega que se parte os desenvolvimentos posteriores acerca do entendimento do atomismo e de seus desdobramentos.
Os períodos da filosofia antiga que aqui serão abordados referem-se, primeiramente, ao período naturalista (século VI a.C.)