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Querido diário
Praticamente todas as noites, antes de deitar, Hilda pegava o caderno de capa
dura que mantinha bem escondido e conversava com suas folhas. Algumas
vezes não tinha muito o que dizer, então se limitava a escrever:
Foi um dia como outro qualquer. Vim só dizer boa noite.
Em outras, contava detalhadamente o que havia feito, o que sentia, o que
queria sentir, o que estava pensando, o que não a deixavam falar.
Nesse dia em especial sentia-se um pouco confusa.
Querido diário,
Ainda estou tentando entender o que está se passando por aqui. Depois do
jantar, todos se reuniram em torno do rádio, como sempre, para ouvir sobre a
guerra que está acontecendo na Europa. Mas hoje em especial uma notícia dei-
xou meu pai enfurecido, minha mãe estática e meus avós completamente sem
rumo. A voz do locutor caiu feito uma bomba na nossa casa. Meus avós, que,
como você sabe, moram na última casa da vila, saíram correndo, como se esti-
vessem fugindo de alguma coisa. E meu pai nos mandou para a cama mais
cedo do que de costume.
Sabe, diário, antes de dormir, meus irmãos e eu ficamos nos perguntando o
porquê daquela reação toda. Era como se eles tivessem medo de que a qual-
quer momento um avião fosse passar por cima da vila e jogar uma bomba,
acabando com as nossas casas. Com a nossa vida.
Aí, eu que estou sem sono, pergunto a você: se a guerra está acontecendo lá
longe, na Europa, o que nós, aqui no Brasil, temos a ver com isso?
tinham feito o colegial e começaram trabalhando com o pai até seguirem, cada
um, seu próprio caminho. E ainda havia Geraldo, o mais novo, que tinha cur-
sado faculdade de direito. Orgulho da família toda.
No dia seguinte, o irmão mais velho de Hilda, Humberto, descobriu pelo
jornal o que tinha mexido tanto com a família. Afinal, se os alemães come-
çavam a ser perseguidos em território nacional, o passo seguinte seria acon-
tecer o mesmo com os italianos. Mamma mia!