6 - (UERJ/2007)
No romance A caverna, narra-se a história de um artesão que passa a ter sua produção rejeitada pelo
megacentro econômico que monopoliza o comércio da cidade. A anulação do trabalho manual pela tecnologia,
bem como a exploração destrutiva do homem e da natureza pelo capitalismo, são temas que permeiam a
narrativa. Neste fragmento, você vai acompanhar a cena em que o protagonista volta para casa, no campo,
depois de viver na cidade, em busca de trabalho.
A caverna
Enfim, a cidade ficou para trás, os bairros da periferia já lá vão, daqui a pouco aparecerão as barracas, em
três semanas terão chegado à estrada, não, ainda lhes faltam uns trinta metros, e logo está a Cintura Industrial,
quase tudo parado, só umas poucas fábricas que parecem fazer da laboração contínua a sua religião, e agora
a triste Cintura Verde, as estufas pardas, cinzentas, lívidas, por isso é que os morangos 05devem ter perdido a
cor, não falta muito para que sejam brancos por fora como já o vão sendo por dentro e tenham o sabor de
qualquer coisa que não saiba a nada. Viremos agora à esquerda, lá ao longe, onde se vêem aquelas árvores,
sim, aquelas que estão juntas como se fossem um ramalhete, há uma importante estação arqueológica ainda
por explorar, sei-o de fonte limpa, não é todos os dias que se tem a sorte de receber directamente1 uma
informação destas da boca do próprio fabricante. Cipriano Algor já perguntou 10a si mesmo como foi possível
que se tivesse deixado encerrar durante três semanas sem ver o sol e as estrelas, a não ser, torcendo o
pescoço, de um trigésimo quarto andar com janelas que não se podiam abrir, quando tinha aqui este rio, é
certo que malcheiroso e minguado, esta ponte, é certo que velha e mal amanhada2
, e estas ruínas que foram
casas de gente, e a aldeia onde tinha nascido, crescido e trabalhado, com a sua estrada ao meio e a praça à
desbanda3
(...) A praça ficou para trás, de repente, sem avisar, 15apertou-se-lhe o coração a Cipriano Algor,
ele sabe da vida, ambos o sabem, que nenhuma doçura de hoje será capaz de minorar o amargor de amanhã,
que a água desta fonte não poderá matar-te a sede naquele deserto, Não tenho trabalho, não tenho trabalho,
murmurou, e essa era a resposta que deveria ter dado, sem mais adornos nem subterfúgios, quando Marta
lhe perguntou de que iria viver, Não tenho trabalho. Nesta mesma estrada, neste mesmo lugar, como no dia
em que vinha do Centro com a notícia 20de que não lhe comprariam mais louça (...). O motor da furgoneta4
cantou a canção do regresso ao lar, o condutor já via as frondes5 mais altas da amoreira, e de repente, como
um relâmpago negro, o Achado veio lá de cima, a ladrar, a correr pela ladeira abaixo como se estivesse
enlouquecido (...). Abriu a porta da furgoneta, de um salto o cão subia-lhe aos braços, sempre era certo que
seria ele o primeiro, e lambia-lhe a cara e não o deixava ver o caminho (...).
(SARAMAGO, J. A caverna. São Paulo: Cia. das Letras, 2003.)
Vocabulário:
1 directamente – grafia portuguesa para “diretamente”
2 amanhada – arranjada, adornada
3 à desbanda – ao lado
4 furgoneta – veículo de passageiros e pequena carga
5 frondes – copas das árvores
No texto, o modo de organização discursiva se altera para expressar diferentes intenções comunicativas do
narrador: informar, descrever ou narrar; expressar emoções, julgamentos ou opiniões pessoais; aconselhar,
ordenar ou interrogar, etc.
Transcreva duas passagens nas quais se faça referência à degradação do meio ambiente: uma que apresente
a função referencial − própria das descrições − e outra que apresente a função expressiva/emotiva − por meio
da qual se emitem opiniões pessoais.
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