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Brasil se tornou independente sob o signo da estagnação. Antes e depois de 1822, o cenário de crise, pobreza e retração nos negócios tornou-se dominante na vida nacional.
No plano político, ao contrário da América espanhola, onde a quebra das relações coloniais se fez através de encarniçados confrontos militares, a soberania política do Brasil resultou de um complexo encadeamento de negociações, envolvendo Portugal e Inglaterra. O primeiro era a ex-metrópole e a segunda era a potência em ascensão. Vale a pena examinar os antecedentes da situação.
A fuga da família real para os trópicos, em 1808, fora causada pela invasão francesa na península ibérica, composta, àquela altura, por duas potências decadentes, Portugal e Espanha. A ação integrava as guerras napoleônicas (1805-1815), um conjunto de conflitos motivado por uma ação expansionista, que colocou quase todos os países europeus em conflito com Napoleão Bonaparte (1769-1821).
A viagem e a assistência logística à nobreza lusitana contaram com o inestimável apoio do principal inimigo da França, a Inglaterra. Dona da maior armada do planeta, berço da Revolução Industrial e sede das mais importantes casas bancárias da época, o império inglês não parava de estender seus domínios internacionais. Londres era uma espécie de capital financeira do mundo. As invasões abalaram os elos entre as metrópoles e suas colônias americanas.
A corte portuguesa, a partir daí, se tornou um instrumento nas mãos da Inglaterra. Não é de se estranhar que um dos primeiros atos de D. João VI, o monarca português, ao chegar ao Brasil, tenha sido abrir os portos às “nações amigas”. Em linguagem clara, as mercadorias britânicas teriam taxas aduaneiras menores para entrar no Brasil. Em 1810, um novo tratado estabeleceu que a Inglaterra pagaria apenas 15% de tarifas, ou seja, 9% a menos que os cobrados de outros países. Eram também 1% menores que as cobradas de Portugal. Enquanto esta taxa perdurou, a concorrência predatória de produtos estrangeiros manufaturados inibiu a industrialização brasileira. Isso significou também o fim do monopólio comercial definido pelos portugueses até então, o chamado exclusivo colonial, mecanismo pelo qual a colônia só pode comercializar com sua metrópole.
Não bastasse tudo isso, a vinda da família real e numerosa comitiva, devidamente escoltada por navios britânicos, resultou numa inversão da ordem dominante. A súbita transformação da colônia em metrópole acabou por desencadear uma série de eventos que tornou possível a independência do Brasil.
BAIXA NAS EXPORTAÇÕES A colônia vivia uma grave crise, desde o final do século XVIII. A causa básica, lembra Celso Furtado em Formação Econômica do Brasil, era “o estancamento de suas exportações”. A situação perduraria por quase toda a primeira metade do novo século.
Nesse período, o crescimento médio anual do valor em libras das exportações brasileiras não excedeu 0,8% ao ano, enquanto população crescia com uma taxa anual de cerca de 1,3%, aponta Furtado.
“A baixa nos preços das exportações brasileiras entre 1821-30 e entre 1841-50 foi de cerca de 40%”, prossegue ele, enquanto as importações permaneceram em níveis praticamente estáveis. Assim, além do declínio real da renda per capita, o novo país começava sua vida independente enfrentando uma contínua crise no balanço de pagamentos.
Furtado segue em seu raciocínio: “Somente um desenvolvimento intenso do setor não ligado ao comércio exterior poderia haver contrabalançado o declínio relativo das exportações. As atividades não ligadas ao comércio exterior são, via de regra, indústrias e serviços localizados nas zonas urbanas. Não existe, entretanto, nenhuma indicação de que a urbanização do país se haja acelerado nesse período”.
Sem tecnologia que redundasse em aumento da produtividade agrícola e sem significativas possibilidades de formação de capitais, a saída para a economia brasileira seria uma nova inserção no comércio internacional.
Mas a concorrência mundial tornara o Brasil um fornecedor secundário de commodities agrícolas. A exportação de açúcar declinara diante da produção a partir da beterraba no continente europeu. Cuba e as Antilhas viram suas produções de cana florescer e abastecer os demais mercados, especialmente os da América do Norte. O algodão enfrentava pesada concorrência da produção dos Estados Unidos. Outros produtos como fumo, cacau e couros tinham peso relativo menor na pauta de exportações.