• Matéria: Português
  • Autor: danielsantos4832
  • Perguntado 4 anos atrás

Da lamparina à energia elétrica


Tarine Silva Ribeiro

O sítio da vovó Valdenice fica em São João de Iracema, num lugar muito bonito, e o melhor

de tudo é que é pertinho da cidade. É para lá que eu vou nos finais de semana. No sábado passado,

eu resolvi ir ao sítio à noite. Eu já tinha atravessado a porteira quando, de repente, a luz se

apagou...mas pernas pra que te quero! Ao perceber que eu tinha medo de escuro, vovó caiu na

risada e resolveu me contar sobre a sua infância, onde apenas uma lamparina e a lua brilhante

iluminavam a singela casa de pau a pique onde morava com sua família. “O escuro não me

amedrontava, só incomodava um pouco na hora de ir para a privada que ficava afastada da casa:

eu tinha receio de cair no buraco.”

Eu nasci e fui criada na nossa pequena e sossegada São João de Iracema, mais

precisamente onde o Judas perdeu as botas, na calorenta região noroeste do Estado de São Paulo.

Antigamente, nossa cidade era conhecida como “Os Poços”, devido aos boiadeiros que aqui

passavam para abastecerem-se de água e refrescarem-se do calor do sertão agreste.

Na vila, a criançada só cuidava de duas coisas: brincar e aprender. Eu nunca mais consegui

me esquecer do dia emque a ranzinza da professora me colocou ajoelhada em cima dos grãos de

milho e me deu dois tapas na orelha. Que dureza era estudar naquela época!

Nas ruas de terra esburacadas eu me sentia livre e feliz. Divertia-me jogando terra em quem

passava, depois caía na gargalhada. Como naqueles tempos todo mundo era amigo de todo

mundo, as caras feias eram raras. Quando eu sentia o cheiro bom da comida feita por mamães no

fogão a lenha, ia correndo para casa encher a barriga. Que delícia!

O tempo foi passando devagar, pois aqui até o vento sopra lentamente... A vila foi virando

cidade e as casas de pau a pique foram sendo derrubadas e substituídas pelas de tijolos. Os

moradores faziam mutirão para ajudar. Em 1966, eu já estava com meus 12 anos, quando a cidade

acordou diferente: para meu espanto e de toda a população a energia elétrica havia chegado! Foi

um alvoroço, era o fim das lamparinas! Mais do que depressa o meu pai Ezequiel fechou a barbearia

e foi o primeiro morador da cidade a ir até Fernandópolis comprar um liquidificador e uma

televisão. A casa dos meus pais tornou-se a novidade do momento e ficou movimentadíssima: toda

hora os vizinhos queriam usar o

Liquidificador para bater sucos e assistir à televisão.

A danada da televisão era em branco e preto e só pegava um único canal. Quando ela

resolvia sair do ar o pessoal ficava vendo listras por um tempão; nem colocar bombril na antena

resolvia. Meu pai faleceu bem velhinho e em homenagem ao morador antigo o nome Ezequiel Pinto

Cabral foi colocado na rua onde eu passei a minha infância, bem em frente à praça da igreja matriz.

“Encho-me de saudade toda vez que passo por essa rua.”

Após abrir o seu coração, vovó, emocionada, me disse: “É, minha neta, apesar de ser do

tempo da lamparina, eu jamais poderia esquecer as recordações que ficaram na minha mente até

hoje”.

Nós sorrimos e ficamos abraçadas por um longo tempo. Desde então, perdi o medo do

escuro e percebi que apesar de a minha cidade ser simples e pequena no tamanho, com seus ummil oitocentos e cinquenta habitantes, ela é grande no meu coração e inesquecível na mente dos

moradores.

Tarine Silva Ribeiro.

Texto produzido em 2004 quando era aluna da

4ª- série da E. E. Professora Joanita B.B.Carvalho,

São João de Iracema– SP. Baseado na entrevista com Valdenice Cabral Minales Satin, 51 anos.

Entendendo o texto:

Em relação ao texto “Da lamparina à energia elétrica”, escrito por Tarine Silva Ribeiro, após fazer

uma leitura silenciosa e atenta, responder as questões de forma completa observando o seguinte:

O texto é composto por oito parágrafos sendo que, entre o primeiro e o último, ocorre o relato de

fatos da avó da narradora.



1. Por qual motivo a avó resolveu contar os fatos de sua infância à neta?​

Respostas

respondido por: fernandamhs
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1°) Ao notar que sua neta tinha medo do escuro, por estar acostumada com a energia elétrica, a avó resolveu contar como era sua infância na qual usava apenas uma lamparina e a luz da lua, afim de fazer sua neta não temer ao escuro.

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