Tenho diante dos olhos uma carta em que perguntam o que penso da questão ortográfica. Não sei por que
não me perguntam o que penso também do último eclipse do sol ou da candidatura do general Taft à presidência
dos Estados Unidos!
Tenho medo que me pelo das questões gramaticais, e é por isso que passo de largo quando brigam dois
gramáticos. Se brigam três, não saio de casa.
Aqui há tempos, o Dr. Fausto Maldonado publicou em Carangola uma interessante brochura intitulada
Ortografia portuguesa e mandou-me um exemplar acompanhado de uma carta, dizendo-me que no prefácio da 2°
edição responderia à minha crítica. Tanto bastou para que eu não escrevesse nada sobre o livrinho que, aliás, me
proporcionou algumas horas de prazer intelectual.
Nada! Com gramáticos não quero eu brigas!
Nunca me hei de esquecer da célebre questão “faz - fazem”, que, há uns trinta anos, ou mais, se agitou no
Maranhão, a terra em que os gramáticos mais proliferam.
Lembrou-se alguém de perguntar: Como se deve dizer: “fazem hoje dois anos” ou “faz hoje dois anos”?
Apareceram vinte respostas contraditórias: uns opinavam por “fazem”, outros por “faz”; estes afirmavam
que se podiam empregar ambas as formas; aqueles opinavam que nenhuma delas era correta.
Essa diversidade de opiniões deu lugar a uma discussão que durou longos meses. A princípio, nenhum dos
contendores saiu do terreno da urbanidade e da boa educação, mas não tardaram as invectivas, os doestos e,
finalmente, as injúrias.
Imaginem se tratasse de uma questão (...) como a da reforma ortográfica!
(...) Entretanto, reconhecendo embora a conveniência de simplificar e uniformizar a ortografia portuguesa,
não faço, pessoalmente, questão de sistema. Desde que eu entenda o que está grafado, e haja boa sintaxe, o resto
pouco me importa – tanto me faz o “f” como o “ph”.
A simplificação ortográfica obedece a uma lei fatal da natureza, a lei do menor esforço, que tende a
simplificar todas as coisas; tempo virá em que, quer queiram, quer não queiram, todas as palavras serão
representadas pelo menor número possível de letras e sinais.
A.A.
Artur Azevedo. Artur Azevedo. São Paulo: Global, 2014. P. 325-326 (Coleção Melhores Crônicas)
Vamos descobrir o significado?
Invectivas: discurso vibrante contra alguém (invetiva) / Doestos: acusação desonrosa, insultos / Injúrias: praticar infâmia, desonrar
1) No segundo parágrafo, pode-se dizer que há um exagero? Que efeito isso causa?
2) Como é chamada a figura de linguagem que tem como característica o exagero?
3) Observe o trecho “tempo virá em que, quer queiram, quer não queiram, todas as palavras serão representadas
pelo menor número possível de letras e sinais.” Esse texto é data de 1907. Você considera que a previsão de Artur
Azevedo se concretizou? De que forma?
Respostas
respondido por:
1
Resposta:
1-Sim. No texto, creio que trataram a gramática como se fossem pessoas brigando.
2-Hipérbole
3-Sim. Agora, muitas coisas foram simplificadas, tornando a gramática mais fácil
Explicação:
Não sei se está certo, mas, foi o que eu respondi
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