• Matéria: Português
  • Autor: joaolucasmenezes116
  • Perguntado 3 anos atrás

Você percebeu que, afinal, o cronista conseguiu escrever a sua
crônica. Ele partiu do “circunstancial” do episódico? Ele recolheu
da vida diária “algo de seu disperso conteúdo humano”? Explique:



texto A Última Crônica



A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar

um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de

escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de

coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do

irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da

vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da

convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao

circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer

num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num

acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do

essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu

café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu

quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto.

Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos

que merecem uma crônica.


Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se,

numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de

espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e

palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de

seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre,

que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas

curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres

esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da

família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo

mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que

discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para

trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma.

A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se

aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o

pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher

suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de

sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do

freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a

mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas

uma pequena fatia triangular.

A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-

Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não

começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em

torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico

preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa

de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um

animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta

caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola,

o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a

menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força,

apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito

compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam,

discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você…”

Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A

negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-

se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-

lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao

colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se

convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de

súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba,

constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba

sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como

esse sorriso.”

Respostas

respondido por: ivanildodionisio93
1

Resposta:

Karol pra você também tchau bjs pra vc também o eu voucher de quanto a gente aprende com vocês aí como foi

Explicação:

já vai dormir que bom que bom né meu amor e vc está dê quantos dias vc está com o filho dela e o conjunto da minha mãe de Alisson e a gente aprende a Deus eu viu mas não tem foto dessa bicicleta aí amigo desculpa aí eu vou te mandar o número dela agora cheguei do serviço eu vou te mandar uma benção de deus pra mim não


joaolucasmenezes116: vlw meu mano
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