A cadeira do dentista
Fazia dois anos que não me sentava numa cadeira de dentista. [...] Cheguei a marcar várias consultas, mas começava a suar frio [...]. Na única ocasião em que botei o pé no gabinete do odontólogo [...], quando ele me informou o preço do serviço, a dor transferiu-se do dente para o bolso. [...]
Adiei o tratamento. Tenho pavor de dentista. [...]
Desta vez, porém, não tive como escapar. Os dentes do lado esquerdo já tinham se transformado em meros figurantes dentro da boca. [...]
O dentista surgiu com aquele ar triunfal de quem jamais teve cárie. Ah! Como adoraria vê-lo sentado na própria cadeira extraindo um siso incluso! [...] Foi logo ordenando:
– Abra a boca.
Tentei, mas a boca não obedeceu aos meus comandos. [...]
– Abra a boca! – insistiu ele.
Abri a boca. Numa cadeira de dentista sinto-me tão frágil quanto um recruta diante do sargento do batalhão. [...]
– A anestesia vai impedir a dor – disse ele, armado com uma seringa.
– E eu vou impedir a anestesia – respondi duro segurando firme no seu pulso.
Ele fez pressão para alcançar minha pobre gengiva. Permaneci segurando seu pulso. [...] Continuei resistindo, em posição defensiva. Ele subiu em cima de mim. [...] Ele afastou a mão que agarrava seu pulso e desceu com a seringa [...] num gesto rápido, desviei a cabeça. A agulha penetrou a poltrona. [...]
– Não pense que o senhor vai me anestesiar como anestesia qualquer um – disse, dando-lhe um tapa na mão.
A seringa voou longe e escorregou pelo assoalho. Corremos os dois pra alcançá-la [...]. Tapei-lhe o rosto [...] e cheguei antes. A situação se invertera: eu estava por cima.
– Agora sou eu quem dá as ordens – vociferei, rangendo os dentes. – Abra a boca!
– Mas... não há nada de errado com meus dentes. [...]
– Não, não, não. Por favor – implorou – Morro de medo de anestesia.
Era o que eu suspeitava. É fácil ser corajoso com a boca dos outros. Quero ver continuar dentista é na hora de abrir a própria boca. Levantei-me, joguei a seringa para o lado e disse-lhe, cheio de desprezo:
– Você não passa de um paciente!
Nesse texto, o trecho “Levantei-me, joguei a seringa para o lado e disse-lhe, cheio de desprezo:...” (17º parágrafo) apresenta linguagem
A) informal.
B) técnica.
C) culta.
D) regional.
Respostas
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Resposta:
B) Informal. Pois está no informal
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