Chorar no banheiro até que é fácil, difícil mesmo é chorar no trans- porte público. Porque se a pessoa está chorando ali, é porque realmen- te não dava mais para segurar, não tinha saída. O choro do transporte público é o mais inevitável de todos: ele sobe do estômago, atravessa a garganta e causa formigamento no nariz, até ser derramado através dos olhos. Ninguém queria estar chorando ali.
Existe um código de conduta do choro no transporte público. A pessoa que acha que corre o risco de chorar naquele trajeto já entra tentando achar (mais do que nunca) um lugar na janela ou então um outro lugar mais reservado, no fundão do ônibus ou num cantinho do metrô. O mais importante é ser um assento no qual possamos apoiar a cabeça de lado, deixando que o olhar se perca no meio do nada enquanto aquelas lágrimas sofridas correm desenfreadas pelo nosso rosto.
Nesse código de conduta também está escrito que não devemos interferir no sofrimento alheio no transporte público. O máximo que se deve fazer é esboçar um sorrisinho de canto como quem diz “tamo junto, já passei por isso, também faço parte do grupo de Choradores Anônimos do Terminal João Dias”. Todavia, o choro de sofrimento não se confunde com o choro de desespero – o choro de desespero sem- pre pede interferência: “cara, você precisa de alguma coisa?”, é uma questão de segurança pública.
O choro do transporte público tem essa grande vantagem que é o fato de não termos que nos explicar para ninguém. É uma prerrogativa especialmente útil para quem ainda mora com os pais ou para quem já tem filhos, já que chorar na frente deles costuma implicar em dezenas de explicações e justificativas e pretextos e soluçar “tá.tu.do.bem.não. se.pre.o.cu.pa” como se alguém acreditasse nisso. No transporte pú- blico não. Ali o choro é só seu.
Ruth Manus. “Chorar no transporte público”. O Estado de S. Paulo. Disponível em: .
A linguagem utilizada no texto anterior, uma crônica veiculada em um grande jornal, mostra-se adequada à descrição da situação co- locada. Por isso, a escolha de determinadas palavras e expressões, bem como de determinados usos de pontuação no texto, estão a serviço da:
A multiplicidade de narradores que se mostram na observação das cenas tratadas.
B localização dos eventos de fala em um tempo passado e ficcional.
C construção ficcional dos diversos personagens do texto.
D composição da verossimilhança do ambiente e da situação retra- tadas.
E caracterização do próprio narrador por ele mesmo, já que é o único personagem mostrado.
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preciso tbm, ta fazendo provão né kakakakaaka
Explicação:
brunasferreira006:
to assim de saude hjKKKK
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