Apesar de você
Chico Buarque
Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
Música 2
Cálice
Chico Buarque e Gilberto Gil
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Pai, afasta de mim esse cálice, pai
Afasta de mim esse cálice, pai
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Pai (Pai)
Afasta de mim esse cálice (Pai)
Afasta de mim esse cálice (Pai)
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer
momento
Ver emergir o monstro da lagoa
Pai (Pai)
Afasta de mim esse cálice (Pai)
Afasta de mim esse cálice (Pai)
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
De muito gorda a porca já não anda
(Cálice)
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
(Cálice)
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Pai (Pai)
Afasta de mim esse cálice (Pai)
Afasta de mim esse cálice (Pai)
Afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Talvez o mundo não seja pequeno
(Cálice)
Nem seja a vida um fato consumado
(Cálice)
Quero inventar o meu próprio pecado
(Cálice)
Quero morrer do meu próprio veneno
(Pai, cálice)
Quero perder de vez tua cabeça
(Cálice)
Minha cabeça perder teu juízo (Cálice)
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
(Cálice)
Me embriagar até que alguém me
esqueça (Cálice)
Atividades:
1- Em sua opinião, que mensagem
Chico Buarque tentou trazer com a
música 1? Comente.
2- Qual é o seu entendimento sobre o
trecho: “Apesar de você, amanhã há
de ser outro dia”.
3- O que os autores da letra estão
criticando na música 2? Que recursos
e técnicas da língua portuguesa ele
utiliza para tentar driblar a censura?
Explique
4- No refrão de cálice (música 2) a
que os autores se referem com a
frase: “afasta de mim esse cálice, de
vinho tinto de sangue”?
5- A letra da música 2 faz uma alusão
a uma passagem bíblica. De que
maneira o autor tentou relacionar a
história bíblica com a ditadura?
Comente
Respostas
respondido por:
2
Resposta:
1 - A música "Apesar de você" ironiza a ditadura militar como se falasse de um relacionamento amoroso, tendo sido escrita no auge do período ditatorial brasileiro.
2- Simboliza que apesar das dificuldades, tudo há de mudar/melhorar.
3- O regime militar. Fez-se uso da homonímia homófona: a palavra "cálice" possui pronúncia parecida com "cale-se".
4- Afastar o cálice/cale-se = fugir da censura, o eu-lírico pede o fim desse silêncio.
5- "O tema usa a paixão de Cristo como analogia do tormento do povo brasileiro nas mãos de um regime repressor e violento. Se, na Bíblia, o cálice estava repleto do sangue de Jesus, nesta realidade, o sangue que transborda é o das vítimas torturadas e mortas pela ditadura."
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