Não consigo me lembrar exatamente o
dia em que o outono começou no Rio de
Janeiro neste 1935. Antes de começar na
folhinha ele começou na Rua Marquês de
Abrantes. Talvez no dia 12 de março. Sei que
estava com Miguel em um reboque do bonde
Praia Vermelha. [...]
Eu havia tomado o bonde na Praça
José de Alencar; e quando entramos na Rua
Marquês de Abrantes, rumo de Botafogo, o
outono invadiu o reboque. Invadiu e bateu no
lado esquerdo de minha cara sob a forma de
uma folha seca. Atrás dessa folha veio um
vento, e era o vento do outono. Muitos
passageiros do bonde suavam.
No Rio de Janeiro faz tanto calor que
depois que acaba o calor a população
continua a suar gratuitamente e por força do
hábito durante quatro ou cinco semanas
ainda.
Percebi com uma rapidez espantosa
que o outono havia chegado. Mas eu não
tinha relógio, nem Miguel. Tentei espiar as
horas no interior de um botequim, nada
conseguindo. Olhei para o lado. Ao lado
estava um homem decentemente vestido,
com cara de possuidor de relógio.
– O senhor pode ter a gentileza de me
dar as horas?
Ele espantou-se um pouco e, embora
sem nenhum ar gentil, me deu as horas:
13:48. Agradeci e murmurei: chegou o
outono.
Chegara o outono. Vinha talvez do
mar e, passando pelo nosso reboque, dirigia-
se apressadamente ao centro da cidade,
ainda ocupado pelo verão.
As folhas secas davam pulinhos ao
longo da sarjeta; e o vento era quase frio,
quase morno, na Rua Marquês de Abrantes.
E as folhas eram amarelas, e meu coração
soluçava, e o bonde roncava.
[...] Era iminente a entrada em
Botafogo; penso que o resto da viagem não
interessa ao público. [...] O necessário é que
todos saibam que chegou o outono. Chegou
às 13:48 horas, na Rua Marquês de
Abrantes, e continua em vigor. Em vista do
que, ponhamo-nos melancólicos.
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Rápido pfvr
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Não consigo me lembrar exatamente o
dia em que o outono começou no Rio de
Janeiro neste 1935. Antes de começar na
folhinha ele começou na Rua Marquês de
Abrantes. Talvez no dia 12 de março. Sei que
estava com Miguel em um reboque do bonde
Praia Vermelha. [...]
Eu havia tomado o bonde na Praça
José de Alencar; e quando entramos na Rua
Marquês de Abrantes, rumo de Botafogo, o
outono invadiu o reboque. Invadiu e bateu no
lado esquerdo de minha cara sob a forma de
uma folha seca. Atrás dessa folha veio um
vento, e era o vento do outono. Muitos
passageiros do bonde suavam.
No Rio de Janeiro faz tanto calor que
depois que acaba o calor a população
continua a suar gratuitamente e por força do
hábito durante quatro ou cinco semanas
ainda.
Percebi com uma rapidez espantosa
que o outono havia chegado. Mas eu não
tinha relógio, nem Miguel. Tentei espiar as
horas no interior de um botequim, nada
conseguindo. Olhei para o lado. Ao lado
estava um homem decentemente vestido,
com cara de possuidor de relógio.
– O senhor pode ter a gentileza de me
dar as horas?
Ele espantou-se um pouco e, embora
sem nenhum ar gentil, me deu as horas:
13:48. Agradeci e murmurei: chegou o
outono.
Chegara o outono. Vinha talvez do
mar e, passando pelo nosso reboque, dirigia-
se apressadamente ao centro da cidade,
ainda ocupado pelo verão.
As folhas secas davam pulinhos ao
longo da sarjeta; e o vento era quase frio,
quase morno, na Rua Marquês de Abrantes.
E as folhas eram amarelas, e meu coração
soluçava, e o bonde roncava.
[...] Era iminente a entrada em
Botafogo; penso que o resto da viagem não
interessa ao público. [...] O necessário é que
todos saibam que chegou o outono. Chegou
às 13:48 horas, na Rua Marquês de
Abrantes, e continua em vigor. Em vista do
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