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Resposta:SÃO PAULO – Segurando vasos cheios de amostras de vida marinha, manifestantes protestam contra a destruição da Grande Barreira de Corais, na Austrália. O protesto, no entanto, acontece debaixo d’água. E as pessoas, na verdade, são esculturas em tamanho real de corpos humanos.
Batizada de “The Coral Greenhouse” (A Estufa de Corais, em português), a obra é uma das instalações que compõem o futuro Museu da Arte Subaquática, ou MOUA (na sigla em inglês para Museum of Underwater Art). Em construção na costa nordeste da Austrália, ele será a primeira instituição desse tipo no Hemisfério Sul.
Escultura da instalação ‘Coral Greenhouse’, que é um protesto em defesa da Grande Barreira de Corais, no futuro Museu da Arte Subaquática Foto: Divulgação
O projeto deve ser concluído e aberto ao público em abril pelo britânico Jason deCaires Taylor. Formado pelo London Institute of Arts em 1998, o artista decidiu há 15 anos se dedicar a figuras que, em sua maioria, só serão vistas de perto por quem ousar mergulhar para encontrá-las. Começou em 2006, criando um jardim subaquático de esculturas em Grenada, pequeno país do Caribe. Depois partiu para trabalhos maiores na costa do México, em 2009, e da Espanha, em 2016, com o porte de museus. No ano seguinte, já começaria a planejar o projeto na Austrália.
Ambientalista apaixonado, Taylor tem agora a missão de deixar mais clara a principal razão pela qual faz as pessoas mergulharem: a importância de conhecer e valorizar a natureza escondida lá embaixo. O MOUA é uma iniciativa apoiada pelo governo do estado australiano de Queensland na intenção de alertar moradores e visitantes sobre como as mudanças climáticas ameaçam o futuro dos recifes de coral. A maior parte do investimento é público, complementado por doadores particulares. O valor do projeto não é revelado pelo artista.
Na última década, quase metade dos corais da Grande Barreira morreu. E o cenário tende a piorar: em fevereiro deste ano, o órgão nacional que acompanha os oceanos emitiu um comunicado de que 2020 pode bater o recorde de área afetada pelo branqueamento, como se chama o processo de exposição do esqueleto dos corais. O prognóstico é que a maior parte dos 2,3 mil quilômetros de extensão desse sistema seja prejudicada. Com o aumento da temperatura da água, as algas que vivem na cobertura dos recifes e definem suas cores acabam morrendo ou ficando sem pigmentação. O processo pode ser transitório, mas se o calor persiste por muitos dias torna-se fatal.
E como a arte pode servir para tratar de um problema ecológico tão complexo? Para Taylor, a concepção das esculturas é um trabalho difícil porque exige tanto valorizar a beleza do lugar quanto destacar o aspecto sombrio da situação.
“Por um lado, é preciso se manter otimista. Por outro, há coisas terríveis acontecendo e temos que falar delas. Devemos ter equilíbrio entre o alerta forte e a mensagem de esperança para levar as pessoas a agir. Elas desistem se a mensagem é muito negativa.”
JASON DECAIRES TAYLOR
Artista e ambientalista britânico, idealizador do museu e criador de suas obras
É por isso que as esculturas já instaladas para formar o futuro MOUA, colocadas no fundo do mar em dezembro, retratam pessoas com ar sereno interagindo com corais dentro de uma estrutura metálica que representa uma estufa. Todas as imagens, com o tempo, devem se misturar à paisagem, sendo envolvidas por algas e plantas. Cientistas e engenheiros trabalham com ele para pensar nos materiais das peças, que precisam ser neutros, sem impacto ambiental, e ao mesmo tempo resistentes.
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