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Um homem sem rosto - Ana Paula Cardoso
Era meia noite, exatamente o mesmo horário de costume quando saí do trabalho, era uma noite silenciosa e o único som que eu ouvia naquele momento eram as folhas se arrastando com o soprar do vento gelado daquela sexta-feira.
Ao dobrar a esquina próximo a pracinha do cemitério, me deparei com um casal de jovens sentados no banco da pracinha, se esquentando daquele frio, justo naquele dia eu havia esquecido meu casaco. Não pude ver seus rostos, mas, eles estavam tão quietos, creio que se aquecendo. Logo ao passar por eles, acho que, por um instante pude ouvir um sussurro, que parecia ter sido meu nome.
Naquele momento eu estava me culpando por ter saído tão tarde e ter escolhido aquele caminho para ir embora.
Um pouco assustada, trêmula e atordoada, comecei a andar mais depressa, virei a rua que dava na ladeira da vila se São Miguel, onde eu morava. Meu coração batia tão forte que a cada batida eu conseguia sentir ele querer sair do peito, afinal, faltavam somente duas quadras para chegar até a minha casa, foi quando decidi correr. Corri tanto, que comecei a ter uma crise de asma, me senti tonta, precisei sentar-me no ponto de ônibus que estava logo ali, trêmula peguei a bombinha na bolsa, derrubei-a no chão, foi assim que senti que uma presença estava ali, do meu lado.
Com a cabeça baixa, medo dobrado, sem coragem para levantar-me, vi uma mão de sombra pegar minha bombinha e colocar ao meu lado em cima do banco, logo em seguida, colocou a mão em meu ombro, tudo gelou e ali senti minha espinha por inteiro se arrepiar.
Sem poder me mover, sem ao menos conseguir me levantar, tentei gritar por ajuda, mas a voz não veio... Não havia saída, levantei a cabeça, vi um homem sem rosto apontando uma faca pra mim, ao fundo, a mulher que o acompanhava, ali ele disse meu nome num sussurro, o mesmo que eu havia ouvido naquele casal da pracinha, não mais jovens, não mais se aquecendo, ali havia uma voz fria, vazia e assim, pude ouvir a última batida do meu coração, tudo pareceu em câmera lenta, pude ver uma imagem da minha família, acontecimentos da minha vida, e num golpe certeiro… Caí da cama e acordei.
Espero ter ajudado, abraço!