• Matéria: Português
  • Autor: thiagohenrique8550
  • Perguntado 3 anos atrás

Para refletir mais sobre as formas de consumo e seus impactos na sociedade, leia o poema "Eu, etiqueta" (1984), de Carlos Drummond de Andrade. Com base no titulo do texto, antes de sua leitura, elabore uma hipótese sobre quais podem ser as relações possiveis entre o eu lírico (sentimento que predomina dentro do poema) e uma etiqueta. SOBRE O AUTOR

Carlos Drummond de Andrade (Itabira-MG, 1902- Rio de Janeiro-RJ, 1987) fol poeta, contista e cronista, integrante da segunda geração do Modernismo brasileiro, também conhecida como Geração de 30. Sua primeira publicação fol Alguma poesia (1930). Conhecido por sua irreverência, é autor de uma vasta obra, Eu, considerada fundamental na literatura brasileira. A temática social, que trata de aspectos do cotidiano, e lirica e subjetiva marcam sua poesia. Drummond de Andrade escreveu também contos, crónicas e livros de literatura infantil. Entre sua obra poética, podem-se destacar Sentimento do mundo (1940), A rosa do povo (1945), Claro enigma (1951), Lição de coisas (1962), Antologia poética (1962) e Boitempo (1968).

RAL DO BEASE

Etiqueta

Eu, etiqueta

Em minha calça está grudado um nome

que não é meu de batismo ou de cartório, um nome... estranho. [...]

Minhas meias falam de produto

que nunca experimentel mas são comunicados a meus pés

Meu tênis é proclama colorido

de alguma coisa não provada

por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

Indispensabilidade,

e fazem de mim homem-anúncio itinerante,

escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É doce estar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade,

trocá-la por mil, açambarcando

todas as marcas registradas,

todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser

eu que antes era e me sabia

minha gravata e cinto e escova e pente,

meu copo, minha xicara,

minha toalha de banho e sabonete,

tão diverso de outros, tão mim-mesmo,

ser pensante, sentinte e solidário

com outros seres diversos e conscientes

meu isso, meu aquilo,

desde a cabeça ao bico dos sapatos,

b

são mensagens,

letras falantes,

de sua humana, invencivel condição.

Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro,

gritos visuais,

em lingua nacional ou em qualquer lingua

(qualquer, principalmente).

ordens de uso, abuso, reincidência,

costume, hábito, premência,

E nisto me comprazo,tiro glória de minha anulação.

Não sou vě lá-anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender em bares festas praias pérgulas piscinas,

e bem à vista exibo esta etiqueta

global no corpo que desiste

sou gravado de forma universal,

saio da estamparia, não de casa,

da vitrina me tiram, recolocam objeto pulsante mas objeto

que se oferece como signo de outros

objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

de ser não eu, mas artigo industrial,

peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o titulo de homem

de ser veste e sandália de uma essência

Meu nome novo é coisa.

tão viva, independente, que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora

meu gosto e capacidade de escolher,

minhas idiossincrasias tão pessoais,

tlo minhas que no rosto se espelhavam,

e cada gesto, cada olhar, cada vinco da roupa

resumia uma estética?

Hoje sou costurado, sou tecido,

Eu sou a coisa, coisamente.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu, etiqueta.

In: ANDRADE, Carlos Drummond de.

Corpo.

São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Glossário

premência: urgência, pressão.

comprazer-se: satisfazer-se, deleitar-se.

pérgula: pérgola ou pergolado, tipo de construção comum em jardins, constituida por vigas usada frequentemente como

suporte para plantas trepadeiras.

idiossincrasia: comportamento particular de um individuo. vinco: marca deixada por algo que foi dobrado.

Estudo do texto

1. Qual é a critica social feita no poema? Você concorda com ela?

2. Por que o eu lírico se considera como um "homem-anúncio itinerante"? De que maneira isso está relacionado à sua

mudança de nome?

3. Tomando por base os seus conhecimentos prévios sobre anúncios publicitários, o que são as "mensagens, letras

faltantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso" presentes nos objetos do eu lírico?

4. O eu lirico se considera "escravo da matéria anunciada". E você? Sente-se escravo do consumo? Por qué?

Lela a charge a seguir e responda às questões propostas sobre ela​

Respostas

respondido por: gracienem426
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