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Com um elenco exorbitante, e produção volumosa, o filme de Roland Emmerich é um épico com vontade de ser grande entre os grandes e para isso tenta explorar os lugares mais comuns do gênero. Ao eleger um mito, construir uma intriga entre herói e vilão, mover grandes guerras, mostrar violência e trazer o fundo histórico para a narrativa, a direção intenta fazer um monumento nacional, uma epopeia norte-americana, que, se não é tão grandiosa quanto a sua intenção, também fica longe de ser ruim. Apesar de pecar em verossimilhança histórica e construir uma vilania inglesa que carece de historicidade e verdade, é visível a tentativa da produção de afirmar o gênero épico ao construir um inimigo forte e robusto o bastante que, ao ser derrotado pelo herói que uma vez foi fraco e vencível, nos cause deleite pelo feito grandioso do protagonista, porque o bem venceu o mal. Essa é a premissa básica de O Patriota. Diria que é este o seu esqueleto. Dentro disso, temos o principal motor da trama: vingança e paixão. É através da vingança e da ira de um pai que teve a sua criança assassinada pelo comandante das tropas inglesas que se desenrola toda a ação, gerando um ódio nativista do colono em relação aos britânicos, eclodindo a Guerra de Independência.
O argumento gira em torno de Benjamin Martin (Mel Gibson), um veterano de guerra, viúvo, que lutou contra a França e contra os nativos da terra, e entende os horrores de uma batalha. Traumatizado, Martin parece criar sua família dentro de valores universais antiguerra. Com uma família gigantesca para criar, e com filhos pequenos para dar atenção, Benjamin se coloca contra a abertura de um conflito armado com os britânicos, pela independência da nação, justamente para evitar mais uma tragédia. E os motivos do personagem são absolutamente factíveis. No entanto, a figura de seu filho mais velho, Gabriel (Heath Ledger), surge como um empecilho a uma vida mais pacífica. Gabriel Martin é patriota e quer lutar pela nação, indo contra as vontades do pai. E ele vai. Acontece que no meio do conflito ele precisa retornar, machucado. Neste retorno, os britânicos cercam a cidade onde mora Benjamin e sua família, e é aí então que os britânicos cometem barbaridades contra a sua família, matando, inclusive, um de seus filhos. A partir daí, impulsionado pelo sentimento de vingança, Benjamin abandona o pacifismo e se junta a Gabriel na tentativa de construir um exército forte o suficiente para destruir a presença britânica na colônia.
A direção de Roland Emmerich deixa marcas de seu estilo, filmando, sempre quando propício, longos planos, com extensões do cenário, tentando mostrar uma totalidade, filmando tropas inteiras enfileiradas, grandes paisagens de fundo infinito, evidenciando sempre uma vastidão. Essa é uma característica do cineasta alemão, presente em muitos de seus filmes, e que, aqui, parece servir muito bem à temática e ao gênero. É prazeroso ver a grandiosidade, as batalhas, aspectos estes que são próprios do épico. A propósito, apesar do fundo histórico, o que move a narrativa são duas paixões violentas: a ira e a vingança. Benjamin monta toda uma estratégia para vingar a morte do filho, e com isso garante a vitória dos colonos.
O filme demonstra a que veio logo no primeiro ato, com a morte do filho caçula do personagem de Mel Gibson. O que choca pelo realismo e pela maldade com uma criança. O que se segue adiante já é sabido. A direção não abusa da violência, mas utiliza-se de momentos estratégicos para utilizá-la, como nas grandes cenas de guerra, em que decepa-se cabeças e pernas dos personagens, mas com alguma cautela para que não se torne apenas sangue e carnificina. Algumas destas violências lembram mesmo Non’ ou a Vã Glória de Mandar (Manoel de Oliveira, 1990). Brutal na medida certa, o filme alimenta, durante duas horas e meia, um clímax potente, que é o momento em que Benjamin fica frente a frente com o algoz de seu filho, o coronel William Tavington (Jason Isaacs). A propósito, Jason Isaacs está insuportável neste filme, um carrasco de valor.