• Matéria: Português
  • Autor: GabrielsouzaAa5991
  • Perguntado 3 anos atrás

Gente me ajuda pfvv

O sinal do pajé

Na nossa época, Curumim -- falou o velho pajé como se tivesse lido seu pensamento --, não tínhamos muito tempo para brincar, não. Vivíamos constantes tensões. Era um tempo de guerra contra outras gentes do lado oposto do rio. Era também uma época em que os homens brancos estavam chegando em nossas aldeias. Éramos jovens e torcíamos para que nossos líderes permitissem que interceptássemos os barcos que traziam os homens de roupa comprida. Mas tínhamos medo, muito medo. (. )


-- Vocês tinham medo do quê? -- quis saber o menino. -- Naquela ocasião, não sabíamos direito do que tínhamos medo, mas o fato é que aquelas pessoas que estavam vindo para cá encontrar-se conosco eram muito estranhas, muito feias, muito selvagens. Seus olhos eram diferentes, seus rostos sujos de pelos nos causavam medo. Seus rostos não nos permitiam ver sua pele; não sobrava nada onde se pudesse fazer uma pintura de boas-vindas. Então, não ficávamos seguros sobre o que eles realmente queriam. -- E eles não podiam ser amigos? E se só quisessem o bem de nossa gente? -- questionou o garoto. -- Isso tudo, Curumim -- retomou a palavra a avó --, nossos líderes também se perguntavam. Quando começamos a ouvir o sonho de nossos avós sobre a chegada dos homens peludos, era tudo engraçado. Alguns dos nossos avós chegaram a dizer que eles sabiam voar dentro de pássaros gigantes e que nossas flechas nunca poderiam impedi-los de voar, por serem grandes e fortes. Outros pajés diziam ter visto em seus sonhos que aqueles estrangeiros eram muito perigosos porque tinham medo da floresta, dos animais, dos peixes, dos rios. -- E por que isso os tornava perigosos? -- perguntou o velho pajé com a intenção de provocar a curiosidade no Curumim. -- Porque com medo, as pessoas fazem coisas sem pensar direito. E se temos medo de algo, nosso primeiro pensamento é destruir o que nos assusta. Eles iriam destruir nossa terra, tínhamos certeza. A conversa parou por ali. O Curumim sabia que seus avós tinham um tempo certo de falar e calar, e este tempo tinha chegado ao final. Ele sabia que não adiantava mais fazer perguntas, pois eles não responderiam a mais nada naquele momento. (. )

(Daniel Munduruku)

1)Quais marcas linguísticas foram utilizadas pelo pajé para se referir (1) à própria sociedade (2) a outros grupos indígenas (3) aos europeus?

2)O que essas marcas podem revelar sobre a cosmovisão indígena?

3)No trecho "Era um tempo de guerra contra OUTRAS GENTES do lado oposto do rio", a que se refere o trecho destacado?

4)Retire do texto uma expressão que indique tempo e lugar.

Respostas

respondido por: stelfs
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Sobre o texto, "O sinal do pajé", de Daniel Munduruku, respondemos:

  1. As marcas linguísticas utilizadas pelo pajé para se referir à própria sociedade, a outros grupos indígenas e aos europeus, foram: o uso da primeira pessoa do plural, o termo "outras gentes do lado oposto do rio" e "homens brancos", "homens de roupa comprida".
  2. Essas marcas revelam sobre a cosmovisão indígena que, apesar de outros povos serem de famílias indígenas diferentes, eles ainda são considerados como parte dos seus, enquanto os portugueses seriam estrangeiros.
  3. O termo destacado se refere a outros povos indígenas.
  4. As expressões que indicam tempo e lugar, respectivamente, seriam: "Na nossa época" e "do outro lado do rio".

Quem é Daniel Munduruku?

Daniel Munduruku é escritor e professor brasileiro e indígena, pertencente à etnia Munduruku, fato que ocasionou seu nome artístico.

Além disso,

  • seu livro Meu avô Apolinário recebeu Menção Honrosa, através de uma escolha da Unesco, no Prêmio Literatura para crianças e Jovens, por abordar a questão da tolerância
  • escreveu Histórias de índio, coisas de índio e As serpentes que roubaram a noite, livros que receberam a Menção de livro Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, FNLIJ.
  • ele é formado em Filosofia, licenciado em História e Psicologia
  • atuou na pós-graduação de Antropologia Social da USP
  • participou da Pastoral do Menor, em São Paulo, como educador social

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