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O destino do pensamento de Maquiavel, cinco séculos depois de sua morte, ainda não foi decidido. Lido por muitos, sua obra tem conhecido tantas interpretações divergentes quanto são os filósofos e ensaístas que dele se aproximam para analisá-lo.
De um modo geral, os críticos de Maquiavel até o século XIX se basearam quase exclusivamente no seu livro mais brilhante, O Príncipe, lendo-o em regra de má fé, citando frases fora do texto, não levando em conta o ambiente histórico em que surgiu e deturpando assim seu pensamento pela simplificação ou insuficiente compreensão de suas idéias. Por outro lado, seus defensores se colocaram num extremo oposto igualmente inaceitável, apresentando-o como um cristão convicto, republicano, patriota exaltado e amante da liberdade que teria pregado o absolutismo como mero expediente político ou refletindo apenas as imposições do momento histórico.
Para entendermos de fato as idéias de Maquiavel, é preciso avaliar criticamente toda a sua obra, situando-a no momento histórico em que a Itália – por suas próprias palavras – “… estivesse mais escravizada do que os hebreus, mais oprimida do que os persas, mais desunida que os atenienses, sem chefe, sem ordem, batida, espoliada, lacerada, invadida …” (O Príncipe – Cap. XXVI), examinando-a em sua inteireza e valorizando, de modo particular, ao lado d’ O Príncipe, a História Florentina, a Arte da Guerra e os Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio, livros que se completam, sendo que os últimos apresentam, com relação aos primeiros, pontos de aproximação e de contraste, sendo indispensáveis para nos dar uma visão íntegra do pensamento de Maquiavel, no qual a justificação do absolutismo coexiste com um manifesto entusiasmo pela república.